domingo, 25 de abril de 2010

Cinema (homenagens) nº1

Encontrei, no bolso da calça,
um ingresso de cinema
que me perguntava:
– Onde vivem os monstros?
– Tão longe, tão perto. – respondi pensando
na Vida secreta das palavras.

(25/04/2010)

domingo, 11 de abril de 2010

Obtuso

Tenho trabalhado tanto nos últimos tempos que, ao atravessar a rua, torço para que o sinal fique vermelho, só para que eu me sinta obrigada a ficar parada por alguns segundos. Sério. Porém, na semana passada, houve um feriado! – o que não significou nada para mim, que viajei, mas levei uma mala a mais, cheia de “para casa”. O bom mesmo foi a volta: viajei de madrugada e tive nada mais nada menos do que cinco horas inteiras com a obrigação de ficar parada, deixando apenas que o ônibus se movesse por mim e o motorista se preocupasse com as intempéries do caminho. Viajar de madrugada é absolutamente fantástico, porque você não pode ler nem estudar e mal consegue ver a paisagem pela janela. Assim, restam-lhe poucas opções – para mim, no momento, tão desejáveis – como dormir, ouvir música e pensar. Fiz um pouco das três. E, enquanto unia-as, letárgica, pensei no obtuso. O obtuso, de acordo com Barthes, é algo que escapa à linguagem; é uma imagem, uma cena que diz o que não se consegue traduzir. Bem, pelo menos é o que eu consigo captar – atire a primeira pedra aquele que nunca teve dificuldades para entender Roland Barthes e sua inteligência tão francesa! Pois enquanto ouvia Morphine, começava a cochilar e refletia, fiz uma pequena lista mental de cenas, para mim, obtusas. Segue o resultado (não necessariamente nesta ordem):
1) A expressão de Juliette Binoche quando, em “A liberdade é azul”, devora um pirulito da filha, encontrado na bolsa que usava no dia em que sofre o acidente que mata toda a sua família;
2) O olhar inquieto do menino filmado em uma espécie de ‘fotografia viva’ no final de “Diários de motocicleta”;
3) O abandono de Gael García Bernal, de muletas, na estação de trem, desprezado mais uma vez pela mulher que amava, em “Amores Brutos”;
4) A sensação de ´prestes a chorar’ da menina de “O balão branco”, quando os encantadores de serpente roubam-lhe o dinheiro com que ela compraria seu peixinho dourado;
5) A alegria de Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), no brinquedo giratório, em “Os incompreendidos”;
6) (e, por último – mas não menos nobre que os demais): A fênix no céu, quando Ikki vinha salvar seu irmão mais novo, Shun de Andrômeda, em “Cavaleiros do Zodíaco”.

(10/04/2010)