domingo, 27 de março de 2011

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Certas letras de música falam por nós. E, às vezes, descobrimos que nossos sentimentos são os mais populares, os mais churrasqueiros e – por que não? – os mais pagodeiros. E eu cresci na época em que Raça Negra, Katinguelê, Exaltasamba alegravam as tardes de domingo, com playbacks e coreografias limitadas, nos programas de auditório. Era o tempo da lua que vai, iluminar os pensamentos dela... Em que a gente nadava e morria, na beira da praia, porque, se não tiver você, o coração chora... e assim por diante. Não precisava inventar um poema para a data de aniversário da pessoa querida! Era só cantar: “Feliz aniversário, meu amor, espero que você esteja muito feliz...” Não, eu não gostava de pagode e, ao contrário, manifestava por ele abertamente todo o meu menosprezo. Mas acontece que o tempo vai passando, e a gente percebe que há catástrofes musicais bem mais contundentes. E vê que o pagode tinha, ao menos, a sua porção respeitável de bom humor ao musicar experiências prosaicas, sem a pretensão de uma canção sertaneja romântica ou a autoajuda de uma letra de axé. Mas por que eu estou escrevendo sobre isso hoje, com tanta coisa mais importante no mundo? Visite o blog www.wwsuicide.blogspot.com e descubra!

terça-feira, 22 de março de 2011

Eu queria passar a manhã fazendo haikais...

Eu queria passar a manhã fazendo haikais...
sobre as estações do ano e as de trem
sobre a suavidade do vento no princípio do outono
sobre Vivaldi e você, na distância.

Eu queria passar a manhã fazendo haikais.
Mas tenho uma prova pra elaborar.
(22/03/2011)

domingo, 13 de março de 2011

Se um taxista numa noite de verão...

Foi um trajeto curto, do Lourdes à Savassi, de um aniversário a uma despedida. O taxista disse: “Oi, menina!” E daí não parou. Além do endereço ao qual me dirigia, o que falei foram só frases fáticas, procurando incentivá-lo a continuar o solilóquio. “Agora que o Carnaval acabou, está quente... porque aquela chuva ninguém aguenta! E o pior é o que aconteceu no Japão... antigamente a gente lamentava três, quatro mortes. Agora, mais de mil. Mas, também, com a violência em que esse mundo anda, é melhor acabar tudo mesmo. E vai acabar, porque há tanta bomba atômica por aí. O Iraque mesmo tem três bombas apontadas para o Brasil. Agora, eu fico imaginando, o que não pode acontecer é a Dilma, que é terrorista, namorar um cara desses... Pensa bem: eles constroem um balão, destroem o mundo, e passam meses lá em cima, no céu, namorando. Porque, você vai ver, a Dilma será a pior presidente que esse país já teve. Porque o Lula a deixou numa caixa de marimbondos! Só tem PMDB em volta dela. E uma hora dessas ela fica doente aí, e não melhora mais... porque o Michel Temer é capaz de mandar matar ela! Ela que não abra o olho... O mundo está muito violento.” Eu aproveitei dele a pausa para tomar ar, e brinquei: “É, igual novela do Gilberto Braga! Só maldade.” Porém, ele gostava era de Manoel Carlos: “Eu não vejo mais novela... Antes eu trabalhava de manhã e via aquela “Viver a vida”, com a Taís Araújo, que na época eu tinha uma namorada que parecia com ela. Pensa bem, que cara-de-pau! Eu ficava vendo a novela com a patroa, pensando na Pollyana... a gente tinha um código: ela ligava, eu a chamava de Paulo. Mas era uma mulher perigosa. Esses dias, a gente marcou de encontrar. E, pensa bem, eu sou uma pessoa que acredita muito em horóscopo. E eu tinha lido que aquele dia seria de muitos contratempos. E foi mesmo. A mãe dela ficou doente, precisou ir ao hospital e deu tudo errado. Mas a gente tem é que fazer isso, menina: viver a vida. Porque, se não,” – e aludiu ao título de outra novela, essa da Glória Perez, “o coração explode.”

(13/03/2011)