sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sobre por que eu chorei ao ouvir “Nutshell”

Quando estávamos na oitava série, minha amiga Lívia, que sempre fora, e ainda é, uma excelente musicista, foi convidada a tocar em um show de rock cover que algumas bandas da cidade estavam organizando. Deram a ela, então, uma fita cassete com as músicas das quais ela participaria. Nós duas, a essa época, dividíamos nosso carinho pela Legião Urbana e pelos Engenheiros do Hawaii, mas pouco sabíamos além disso sobre rock. Foi, portanto, um “évenement”, um acontecimento irreversível, o dia em que ela me emprestou aquele tape. A primeira das canções era “Nutshell”, do Alice in Chains, seguida de “Black”, do Pearl Jam, “Welcome Home”, do Metallica, “Afraid to shoot strangers” e “Wasting Love”, do Iron, “Angels Cry”, do Angra, e talvez algo mais de que não me recorde. Não havia, no entanto, o nome das músicas ou dos intérpretes na fita. Lembro-me, então, daquele recreio que passei percorrendo o pátio do colégio, com meu walkman em mãos – sim, um “walkman”, man! –, em busca de roqueiros que pudessem colocar aqueles fones nos ouvidos e me contar “de que bandas eu gostava”. Porque foi assim que me interessei por esses grupos: ouvindo-os. Não sabia se eram famosos ou não, se queriam vender imagens a que não correspondiam, se dispunham de vocalistas bonitinhos, ou guitarristas ou whatever. Porque, assim como acredito acontecer com o futebol, é também o rock quem escolhe seus seguidores, não o contrário. Depois vieram, é claro, outras bandas e mais das mesmas, outros tapes, outros vídeos, outros empréstimos e tantos novos amigos. Ao acústico mórbido do Alice in Chains, eu assisti muitas vezes mais do que ao tétrico do Nirvana (com aquelas velas e flores parecendo um funeral, como sempre definem os especiais da MTV...).
Foi por isso que eu me desfiz em lágrimas quando, na última segunda-feira, em Paulínia, tive a honra de assistir a essa adorável, ainda que menos aclamada, banda de Seattle, no SWU. Faltava alguma coisa ali, logicamente, que era o vocalista da formação original, o Laney Staley, que morreu de uma das maneiras mais tristes – irremediavelmente sozinho –, em 2002, quando eu me preparava para deixar minha cidadezinha de interior e me mudar para a capital da província. E Jerry Cantrell fez questão de anunciar “Nutshell” dizendo: “não podemos esquecer de onde viemos”. Eu tinha exatamente a metade da idade que tenho hoje quando ouvi essa canção pela primeira vez, e escutá-la ao vivo, tantas experiências depois, foi como um flashback, uma retrospectiva de tudo o que fui, não fui e deixei de ser nesses anos todos.
(NOTA DE RODAPÉ NO MEIO DO TEXTO: Importante acrescentar que o novo vocalista, William Duvall, reativou a postura combativa do grupo, encontrada em álbuns como o “Facelift” e o “Dirt”, e agrada, sim, e muito, especialmente nas canções do mais novo trabalho, o “Black gives way to Blue”.)
Além do Alice in Chains, também se apresentaram de maneira gloriosa o dissonante Sonic Youth – provavelmente em uma de suas últimas aparições –, o Stone Temple Pilots, com uma seleção de hits indefectível, e o Faith no More, com toda a teatralidade e o inegável charme de Mike Patton tentando falar português. Assim, nem o “tempo do merda”, nem a lama, nem as capas de plástico ordinário que grudavam na pele e pouco protegiam da chuva, nem o cansaço... nada impediu esse dia de ocupar um excelente lugar no hanking dos dias mais fantásticos da minha vida.

(18 de novembro de 2011)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Pérolas aos...

No Rio, ficamos hospedados na casa de uma amiga muito querida, que fez de tudo para que nossa estadia fosse o país das maravilhas. E o Rio de Janeiro, clichê dos clichês!, continua lindo. Coisa mais bonita o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a Lagoa Rodrigo de Freitas, onde morreu afogado o João Gostoso do Bandeira. Delicioso também percorrer as ruas boêmias da Lapa, subir a escadaria de ladrilhos do Santa Tereza, visitar o Museu de Arte Moderna, sentir-se o tempo todo dentro de uma canção do Tom Jobim copiada no verso de um cartão postal do Brasil. Só é uma pena que sobrem por ali os cariocas, que são de fato belamente bronzeados, mas cujo ego os impede de entender que gentileza não é burrice nem fraqueza. O carioca traz dentro de si um Romário em miniatura, veste a fantasia de pavão e acha que é, em tempo integral, o protagonista de uma novela do Manoel Carlos. O carioca dá informação errada por receio de “dar mole”. Porque não pode titubear, dizer “não sei” ou “me desculpe”: há de se tirar sempre vantagem dos outros, ser mais esperto, desmerecer todas as outras origens, que se dividem, para eles, entre gringos ingênuos e apalermados capiais. Não é por acaso que carioca torce para time do Rio: eles se merecem, em todas as suas falcatruas e tantos todos sinônimos para malandragem. Que me perdoem as exceções, é claro.

Mas a gente estava lá é para ver o Pearl Jam, a que já havíamos assistido, no Pacaembu, num show que mudou definitivamente a nossa vida, em 2005. E, Meu Deus!, seis anos depois, ainda impressiona a energia dos caras, a conexão entre público e banda, os coros, as garrafas de vinho e os pandeiros quebrados do Eddie Vedder. Foram quase três horas de show, trinta músicas, num repertório que misturou canções do novo bom trabalho a clássicos do “Ten” e a agradáveis surpresas, como a bela “Indifference”. A gente saiu de lá destruído, mas insuportavelmente feliz. Para fazer vontade – e uma dupla homenagem –, deixo a lindíssima “Just breath”, na voz da Anneke: http://www.youtube.com/watch?v=un5oY6NGxn8.

(11/11/11)