terça-feira, 17 de julho de 2012

A Winter Wasting

“Summer in winter/winter in springtime/you heard the birds sing/everything will be fine.” (Belle and Sebastian) Em casa, no sul de Minas, faz muito frio neste inverno. Leio contos de suspense debaixo do edredom e de um cobertor pesado. Depois descanso o livro sob o travesseiro para sonhar com detetives que solucionam casos. Quando desperto, ainda na cama, vejo da janela pipas coloridas, que, entre os urubus, dançam no céu de um jeito quebrado – como, quando jovem, fazia, em suas bermudas de cotton, o cantor de “Sweet child o´mine”. Quem canta, no entanto, é o canário amarelo, que, no andar de baixo, sente o cheiro doce do café. Dali a pouco, minha mãe chama na escada, e a gente desce para comer biscoito de polvilho e broa de fubá. (17 de julho de 2012)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O campeão dos campeões

No dia em que convenci, sob ligeira pressão, o meu primo Juninho a tornar-se corintiano, confesso que senti uma ponta de culpa. Pensei no menino padecendo, como eu, a eterna falta de Libertadores, nas piadinhas, na sequência de quases. Lembrei a derrota de 3 X 0 para o Grêmio, no Olímpico, em 1996, e a manhã seguinte, quando eu, de olhos inchados de tanto chorar, faltei a aula pela primeira vez “sem justa causa”. Pensei em 1999, quando o Corinthians, na final do Paulista, derrubava o Palmeiras, que, dias antes, havia sido campeão da Libertadores e eliminado o Timão nos pênaltis. De como o Paulo Nunes surgira do vestiário alviverde, com a faixa das Américas sobre o peito, como um diabo loiro vindo dos infernos, saltitante, dizendo: “Fiquem com o Paulistinha de vocês; nós temos a Libertadores.” Ah, como eu quis, por anos, cuspir na cara dele por aquela declaração leviana, desleal, verdadeira. Não sabia ainda da futura eliminação para o Flamengo, o time que tinha um matador no gol e que não deixou que bola alguma entrasse, justo no ano do centenário. E não pressentia sequer que deixaríamos a competição antes do seu início, em 2011, toliminados por um time colombiano. Por isso, quando, na última quarta-feira, com o segundo gol do Emerson, nosso sheik, pude cair de joelhos no chão e gritar “acabou!!!”, meu pensamento seguinte foi nele, no Juninho. Ele é muito novo e ainda não tem consciência do que, de fato, representa esse título; mas eu sabia que, com ele, muito peso nos saía das costas, e que, mais do que alegria, nós sentíamos era alívio. Pois apavorava andar pela rua naqueles dias, porque a secação era emanada de todos os lados, de dentro de nossos amigos mais próximos, até de nossos mais bem quistos familiares. Era, de fato, o Corinthians contra o resto do mundo. Eu me mantive incrédula e mesmo pessimista a maior parte do tempo, porque sempre receei o esquema retranqueiro do Tite, reclamei a ausência de um atacante criativo, sempre soube que os adversários que enfrentamos eram, em muitos aspectos, superiores à nossa equipe. Mas havia uma força estranha, desde o começo desta competição, que travou o Diego Souza, apagou o Neymar, amoleceu o Riquelme, calçou as chuteiras no Romarinho e que, sobretudo, guiou para a trave o chute do Cvitanich na Bombonera, aquele estádio-bomba atômica, ensurdecedor. Naquele instante, aos 46 do segundo tempo, meu irmão, são paulino declaradamente anti-corintiano, suspirou um “é...”, levantou-se do sofá lentamente e começou a preparar-se para dormir. Foi quando eu tive um lampejo de esperança. Foi quando eu acreditei. Aquele gesto era um reconhecimento, para ele melancólico, de que, este ano, nada tirava o título do Corinthians. Por tudo isso é que eu me emociono em saber que, em São Paulo, no histórico dia 04 de julho de 2012, aconteceram sucessivos foguetórios, em horários combinados, barulhentos, incômodos, a começar pelas 6h da manhã, quando um bando de loucos gritava “Vai, Curíntia!”, numa energia que era ao mesmo tempo oração e cólera. Por isso acompanhei a pequena multidão uniformizada, que parava carros, entoando o hino alvinegro, na madrugada de quinta-feira, em BH. Porque demorou tanto, doeu tanto, foi tanta humilhação, tanto medo, que, agora que é de verdade, tanto faz todo o resto. Amo o Corinthians. Somos campeões invictos da Libertadores. E, agora, o mundo pode acabar. (11 de julho de 2012)