quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O último bar antes do fim do mundo

Descobri um bar em Paris chamado “O último bar antes do fim do mundo”. (Um amigo, que está prestes a retornar ao Brasil, disse que, na véspera da partida, vai lá tirar uma foto, segurando o bilhete de volta...) É um lugar para nerds e geeks, onde só se toca rock, música de video game e trilha sonora de anime. (Quando estava lá, por exemplo, morri de euforia ao ouvir um dos temas dos “Cavaleiros do Zodíaco”.) A decoração inclui Gremlins (aquelas fofuras que viram monstros quando em contato com a água) e Totoros (da animação do Miyazaki). Para completar, há um amplo acervo de jogos de tabuleiro, livros de RPG, histórias em quadrinhos e mangás à disposição dos frequentadores – que, diga-se de passagem, são bem mais simpáticos do que o habitual. O pessoal da mesa ao lado até me convidou para jogar uma partida de qualquer coisa com eles, um gesto nada parisiense. E, como se não bastasse, ainda vendem cerveja lá! É o paraíso. Quando eu frequentava o conservatório, conheci uma pianista, de nome muito bonito, que se destacava para mim por ter algo de Madame Bovary. Ela era uma grande amiga da minha professora de piano, que, certa vez, mostrou-me um álbum de fotografias, uma espécie de book, da primeira. Eram fotos belíssimas – ela tinha um sorriso invejável e olhos de um verde muito particular. Mas havia uma nebulosidade em cada uma daquelas imagens, não importava a largura do sorriso ou a quantidade de dentes alinhados. Então, minha professora explicou que, naquele dia, o noivo – médico com nome de compositor alemão, o dos Nibelungos - rompera com ela um namoro de sete anos. Ela estava absolutamente arrasada e a sessão de fotos fora uma tentativa de reanimá-la – talvez no sentido original, de trazer-lhe novamente a alma. No último domingo, eu também estava triste, e um amigo fotografou-me à beira do Sena, tentando alegrar-me – assim como, anos atrás, outro amigo fizera, com três barras gigantes de Laka e um CD de músicas latinas. Depois fomos ao tal bar, e bebemos até o horário do último metrô. Talvez não fosse, afinal, o fim do mundo; só o primeiro dia depois do fim. PS.: Fui surpreendida esta manhã com o e-mail de um amigo que não vejo há muito tempo, de Lavras. O título era "Every sun is fragile". Ele se referia ao novo álbum do Autumnblaze. Mas, ao mesmo tempo, a afirmação faz todo o sentido. Every sun is fragile. (07 de agosto de 2013.)