Ir à praia sempre pareceu algo pouco natural para mim: afinal, representaria torcer contra a chuva e ouvir axé sem ficar analisando – e criticando – a letra. Mas não era só isso: a intromissão da areia, o sol, a pele descascando depois, e aquela série de coisas que as pessoas costumam achar “superlegais”, como pular onda (ah, que divertido!) e depois ficar “secando”, estirado sobre a canga colorida, com tantas partes do corpo à mostra, na ânsia de voltar para casa bronzeado, com “marquinha de biquíni”... bem, tudo isso me cansava só de imaginar, e eu escolhia mesmo era perseguir os lugares frios – de preferência, com possibilidade de geada e neve. Mas as coisas mudam, e a gente muda também. Poucos anos atrás, comecei a achar bonito o mar e a gostar do sol – um pouco por influência das “Núpcias”, de Camus, que é um livro belíssimo sobre essa riqueza dos litorais. E a ir à praia em situações inevitavelmente empolgantes, com grupos de pessoas bem entusiasmadas, dessas de quem você precisa fugir, sorrateiramente, e se esconder no banheiro, se quiser ler um livro sem que pensem que você está triste, com princípios de depressão ou algo assim. Com o tempo, a gente aprende a se deixar contagiar. A ver que não há mal nenhum nisso. E passa até a gostar dessas férias solares de si mesmo. Foi o que aconteceu no último feriado, quando fui para Ubatuba com meus amigos de colégio. Nós nos conhecemos há uns dezessete anos, sabemos uma tonelada de coisas uns dos outros, a ponto de podermos prever nossas reações a tais e tais situações, e, mesmo assim, ainda nos gostamos, sentimos saudade, queremos ficar perto. Porque a amizade tem que ser assim, uma piscina de almofadas, sobre a qual você possa se atirar sem medo, podendo dividir suas expectativas, seus segredos e mesmo suas inevitáveis irritações. Choveu todos os dias em que estivemos na praia, e não pude trazer para casa a famigerada “marquinha de biquíni”... Porém, ninguém teve dúvidas de que se divertiu, de que havia, sim, algo de ensolarado nessa viagem entre amigos, que a gente queria fazer há pelo menos dez anos, mas que não podia, porque nossos pais não deixavam antes. Pois é: mais uma prova de que envelhecer faz bem.
(11/09/2010)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Aposto que agora você está gostando de dias ensolarados, verões e praias, mas por favor nunca me diga que você está gostando de Axé, vai ser uma grande decepção para mim.
ResponderExcluirEu particularmente não gosto muito de praias.Primeiro porque odeio a areia e sua inestimável habilidade de entrar em qualquer lugar, indo de entre os dedos do pé(o que é um sofrimento para quem tem de voltar a pé para o hotel de chinelo) até a sunga(um desconforto e tanto). Segundo porque nossa casa em Meaípe fica a um quarteirão de uma boate, onde a música varia de Reggae a sertanejo e funk. Odeio Praia.
ResponderExcluirGosto de praia.Mas confesso que gosto mais por causa da beleza e da força de vida que costuma existir por lá, já que praias são quase que integralmente frequentadas por jovens bonitos.
ResponderExcluirNão gosto do cabelo grudado de sol no fim do dia, e de ter de ficar um tempinho a mais tentando tirar areia dos oríficios e fendas do corpo. rs.
Engraçado: Tb estive na praia nesse feriado e me lembrei tanto de Camus! E houve um momento que pensei tb em Núpcias( Um dos meus livros adorados, que acabou desaparecendo do nada, como se tivesse sido sequestrado por ets).
Não obstante toda aquela vida explodindo, há nesses lugares uma tragédia: a dos que querem a todo custo ser felizes, mesmo sabendo que vão morrer um dia.
Amigos, sim; praia, não. Ainda estou na primeira fase, que você descreve no início do texto...
ResponderExcluirO mar é muito bonito e viver no litoral deve dar mais sentido aos dias abafados que temos nesse clima tropical. A princípio, as praias são coisas boas. Mas a cultura "praiana" é lamentável. Transforma a orla em versão veranil do Shopping Oiapoque.
ResponderExcluirNão.