terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Para o amigo Wanderson, com nossas lágrimas

O Atlético-MG deu a meu amigo Wanderson sua tristeza derradeira nesse final de semana. Isso porque, na madrugada de domingo para segunda, quando esperava o ônibus para ir ao trabalho, Wandão foi baleado com cinco tiros na cabeça e morreu imediatamente. Ao que tudo indica, os assassinos o teriam confundido com outra pessoa que, para eles, merecia morrer. Ele tinha 40 anos, uma esposa amorosa, uma filha por quem era simplesmente apaixonado, um emprego em que era um herói. Vinte anos atrás começara a trabalhar como faxineiro no Colégio, depois passara a vigia noturno e fora confirmando sua competência e sua honestidade até chegar à função de porteiro/disciplinário/braço-direito de todo mundo que dele precisasse ou quisesse por perto. Essa história ele contava orgulhoso quase todas as vezes em que saíamos em grupo para uma cerveja, um churrasco, uma companhia até o ponto de ônibus. Ele também gostava de narrar casos dos alunos e se lembrava do nome e das manias de todos eles e não maldizia ninguém nem se queixava nem. E todos o elogiávamos sempre: a paciência, a sabedoria, a prontidão, a alegria. Em meus quase seis anos de Colégio, não houve um dia sequer em que ele tenha sido desrespeitoso, comigo ou com qualquer pessoa que conheça, e era um conforto receber aquele abraço todas as manhãs, mesmo quando, às 6h40, com um dia inteiro de trabalho pela frente, o mundo parecia tão errado. Mal sabia eu que tudo estava, até então, muito certo, porque nós o tínhamos no mundo, para falar do Galo que ele tanto amava, do Corinthians, de que ele aprendeu a gostar por minha causa, para rir das “meninas” (como ele se referia aos cruzeirenses, com sua língua presa), para ensinar a tantos alunos a importância da bondade, dessa grandeza que não é o cargo que define, mas o ser. Por isso o velório, hoje, na Santa Casa, foi uma gigantesca reunião de pessoas de todas as classes, de todas as idades, de alunos e ex-alunos, colegas e ex-colegas, professores, coordenadores, diretores, familiares, vizinhos, amigos. Todos queriam prestar sua última homenagem, escrever-lhe um bilhete, admirar seu sorriso nos cartazes espalhados pelo recinto. Ninguém consegue sorrir agora, ainda que seja isso que, em breve, tenhamos que fazer, porque é isso que ele gostaria que fizéssemos, que seguíssemos em frente, que aceitássemos, como fazia ele, a vida em suas circunstâncias. Agora, porém, só há espaço para essa perplexidade, esse torpor de pesadelo, de simplesmente não acreditar nessa violência brutal, nesse julgamento de um ser humano que, por trás de uma arma, pensa que pode escolher quem é digno de viver ou não. Poucas pessoas viveram com tanta dignidade quanto meu amigo Wanwan. E o mundo fica muito, muito errado com a falta que ele nos faz aqui.

06 de dezembro de 11.

3 comentários:

  1. É impressionante ver como uma pessoa consegue comover um colégio, um bairro, muitas pessoas. Wanderson realmente era diferenciado, um funcionário e amigo excelente. Lembrava do nome de TODOS os alunos e para cada um distribuía atenção e carinho o suficiente para marcá-los. Que ele sempre seja lembrado como esse homem digno, honesto, divertido, amigo e confiável que foi.

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  2. Meus sentimentos pelo Wanderson, que nunca conheci, nem ouvira falar até ler este seu texto. Que a sua família e seus amigos sejam consolados, na medida do que é possível, e que essa bondade e alegria que você descreve continuem vivas dentro de todos.

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  3. Essas coisas são muito tristes, não há o que dizer. Só o que lamentar.

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