Quando dou aula sobre anúncio publicitário, sempre comento que a propaganda acaba nos vencendo por alguma de nossas sete fraquezas capitais. A minha, eu confesso, é a vaidade: não posso ver comercial de condicionador! Aquele fio de cabelo danificado que, de repente, é coberto por uma camada brilhante de restauração, seguido da imagem da modelo chacoalhando as madeixas iluminadas, simplesmente me conquistam. Eu tenho total consciência de que é uma ilusão das grandes pensar que meus caros cabelos longos ficarão assim deslumbrantes como os da moça da TV. Mas não consigo resistir e acabo, digamos, arriscando.
Esta semana se encerrava o primeiro módulo do curso de empreendedorismo em que eu estava trabalhando. Então, lá fui eu para o último dia de aula, munida de câmera para registrar os rostos bonitos dos meus alunos, chocolates para me despedir dos meus colegas, e aquela tristezazinha que a gente disfarça dizendo que vai ficar feliz em ter umas tardes livres na semana cheia. Estava, então, compenetrada, somando as notas em uma das turmas – a que se autoapelidou de “Classe A” – quando, subitamente, ouvi um barulho abafado sobre a mesa. Olhei para a frente e lá estava um condicionador de cabelo, trazido por algum dos alunos. No segundo seguinte, então, todos os outros foram se levantando, sincronizados, e depositando sobre a minha mesa o presente que haviam trazido para mim. Quando acordei do susto, havia cerca de vinte condicionadores em cima da mesa, o sorriso de todos aqueles adolescentes tão queridos para mim, e seus aplausos efusivos. Fiquei totalmente comovida. Só não desabei a chorar porque alguém teve a ideia de gritar “abraço coletivo!!” e aí só deu foi para rir mesmo.
Mais tarde, num dia que parecia ser um dos mais legais da minha vida – por uma série de razões –, o meu time do coração foi eliminado da Libertadores e eu fiquei profundamente decepcionada. Mas, ao mesmo tempo, os condicionadores de cabelo amaciaram a frustração. E certamente amaciarão outras e outras vezes... porque uma lembrança dessas a gente carrega consigo para sempre. Mesmo que me cortem os cabelos ou que eu vença a minha vaidosa obsessão.
(09 de maio de 2010.)
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Legal demais! Acho que a coisa que recompensa mais um professor é sentir que os alunos escutaram o que ele falou. E essa homenagem criativa provou exatamente isso!
ResponderExcluirGostei.
É desse tipo de coisas que faz uma profissão valer a pena... ou que faz a vida valer a pena!
ResponderExcluir:)
Eu não estava presente neste dia, mas fiquei sabendo que a homenagem foi emocionante.
ResponderExcluirSomente os professores queridos são lembrados.
Grande beijo..
Mas Angélica, você também é atleticana?
ResponderExcluirSe eu soubesse, você teria ganho dois condicionadores! :(
De qualquer forma, você foi nossa professora mais querida, saiba disso.
A única que sabe que tem galinhas na casa do Klinger!
A única que não aguentava e ria das gracinhas da sala junto conosco e que nunca ficou brava com nossa falta de disciplina...
A única que entende as "Viagens para aprimoramento do mineirês em Berlândia" em nossos currículos.
A única que fugia daquele 'ambiente empresarial' e ia com vestidos ou camisa de banda e calça jeans...
A única, mesmo.
Haha. Muito legal.
ResponderExcluirOu seja se seu time perder, os melhores remédios são lavar o cabelo, e torcer para um time melhor colocado. Alem do cabelo é bom limpar o chão, com sua camisa ou bandeira do seu time do coração.
Até rimou!
Muito bom. Até imagino sua cara na hora.
ResponderExcluirAgora você está suprida com 2 anos de condicionador grátis, menos 20 despesas.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirHaa ninguem aqui sentiu mais falta da Angelica do que eu !
ResponderExcluirProfessora, nossos dias sem vocÊ, agora se tornaram um tedio :(
"Volta, vem viver outra vez ao meu lado "
Pode ter certeza que a classe A nunca irá esquece-la!
Então, foi isso mesmo, e aquele garoto fui eu (so pra lembrar). Saudades dessa professora. By me: Charles Eustáquio
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