Faz mais de uma semana que voltei do SWU, em Itu – aquela reedição do Woodstock sobre a qual escrevi em julho neste blog – e ainda estou bendizendo diariamente o prazer de deitar na minha cama quentinha, com edredom e travesseiro. Porque, numa boa, ir a festivais só nos faz pensar no quanto seu formato deveria ser repensado. Claro que há algo sublime, meio wagneriano, nas proporções gigantescas do evento, com 160 mil pessoas, 74 atrações musicais, em uma fazenda, a céu aberto, no meio do nada... Tudo isso fora a ideia “starts with you” da coisa: é isso aí, vamos salvar o mundo! Estavam lá as lixeiras (cujo conteúdo seria quase integralmente reciclado), as exposições de arte, as frases de efeito no telão e as instalações interativas – como um labirinto construído com lixo prensado, bastante sugestivo. Mas o tempo fez questão de mostrar que o descaso de séculos com o planeta não vai ser revertido com três dias de festa supostamente consciente. O clima era de deserto: de dia, um sol insuportável, de queimar, arder e descascar a pele; à noite, o pior frio que eu já senti na vida. E olha que eu já senti frio! A sensação térmica chegou aos sete graus. Havia momentos em que eu torcia para que os shows acabassem logo ou para que alguém no palco me olhasse, ali, tremendo, sem agasalho, indefesa, e dissesse: “Por favor, alguém empreste uma blusa de lã pra essa menina! Um casaco de soft? Pode ser, pode ser.” Jamais vou me esquecer da madrugada congelante, durante o show do Linking Park (a que não assisti, ávida que estava por uma minipizza de oito reais, depois de doze horas sem comer), e da gentil senhora de Macapá, que, junto a três manauaras, enrolava-se em um cobertor cor-de-rosa que por alguns instantes me aqueceu também. E o ônibus da excursão só apareceria às 4 horas da manhã, porque algum playboy queria ver o show (?) do Tiesto. Outro inconveniente, aliás, é a mistura de públicos, que, com diferentes objetivos no mesmo lugar, não sabem respeitar o espaço do outro, vaiando bandas ancestrais como Yo la tengo, transformando brindes em pilhas de lixo, emporcalhando o já nojento banheiro químico. Porém, dramas à parte, o show perfeito do Queens of the Stone Age, o prazer indizível de assistir ao encontro dos irmãos Cavalera, a doçura do Pixies e, claro, o belíssimo (!) show do Incubus fizeram valer esses sacrifícios. E ano que vem tem mais... Anunciam-se Alice in Chains e o retorno das cinzas do System of a Down. Mas, desta vez, eu levo um poncho, um cachecol e uma garrafa de conhaque.
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E por falar em Incubus, o vocalista, Brandon Boyd, que também é escritor e artista plástico, foi preso dias antes de embarcar para o SWU, ao encontrarem um canivete em sua bagagem de mão, no aeroporto de LaGuardia. Por coincidência, foi exatamente sobre o que me alertaram meus estimados alunos quando souberam que os acompanharia em uma viagem a Petrópolis (dois dias após voltar de Itu): “A viagem é de ônibus, mas os canivetes continuam proibidos.” Uma doce referência, óbvio, à minha linhagem corintiana. O passeio por Petrópolis foi memorável, é claro. Rendeu, por exemplo, o texto cujo trecho transcrevo a seguir, de autoria de Mateus Nardelli:
“Fedor, vômito, e uma eternidade assentado. Essas são as mais temidas sensações das viagens de ônibus, pelas quais a maioria das pessoas já passou.
Quem nunca usou um banheiro químico? Utilizar um banheiro no qual só se pode urinar. E essa urina fica acumulando na água até o produto químico a diluir. Não sei se vocês concordam comigo, é no mínimo nojento. Mas não é só a questão sanitária que traz insatisfações naquelas horas. O pior é chegar até lá. Essa arriscada epopeia que vivemos para nos aliviar é mais perigosa do que qualquer esporte radical. Uma única freada em momento errado e podemos transformar nosso simples instante de alívio em um traumatismo craniano e um cotovelo ralado. Não vamos nos esquecer da hora H, que para os homens é um emocionante jogo de tiro ao alvo e, às mulheres, um touro mecânico.”
E ainda me perguntam se gosto do que eu faço...
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ResponderExcluirPorque o vedder tinha que escolher se casar logo agora? Não dava para se casar aos 30, 35 como qualquer pessoa normal?
ResponderExcluirAinda não estou acreditando que o pearl não participou do festival.
Meu pai também ama System of a Down.
ResponderExcluirComida de evento é a pior coisa do mundo. Além de ser cara, e ruim.
E só pra aproveitar o assunto (comida de evento), vou até fazer uma analogia com a viagem de Petrópolis: a viagem foi como pastel de evento: numa mordida faminta, a única coisa que se ganha é uma baforada quente na cara, porém, sacia um pouco a fome.