Quando assisti a “Alta Fidelidade”, fiquei com mania de listas. E lembro que, naquela época, na lista de “melhores profissões do mundo”, escrevi: vocalista do The Gathering. Na verdade, eu queria era ser a Anneke van Giesberg, mas, como isso não era profissão... Pois bem: algum tempo depois, meu irmão me recebeu em casa com o seguinte comentário: “Lembra daquela sua lista de profissões? Você terá a chance de realizar o seu sonho.” Era um eufemismo bem-humorado para me dizer que a minha querida, adorada vocalista deixaria a minha querida, adorada banda favorita. Já escrevi sobre isso antes, e não há razão para me estender sobre o assunto agora. O que acontece de novo nesse cenário é que, nesse final de semana, fomos a São Paulo, assistir, pela primeira vez no Brasil, à apresentação do The Gathering com os novos vocais: Silje Wergeland. Mas, antes: São Paulo, que vale por si só, pelo cinza, pela Avenida Paulista, pelo MASP com uma vídeo-exposição belíssima de Yann Arthus-Bertrand, além do acervo “Romantismo”, que é mesmo apaixonante. E, antes ainda, meu irmão, que também vale por si só, espécime raro de inteligência e bom gosto. A gente se perde de tal maneira nas nossas conversas que, apesar de termos chegado com uma hora de antecedência à rodoviária na noite de sábado, só não perdemos o ônibus, que partia apressado às 23h45 em ponto, porque eu corri e gritei, fazendo com que alguém o parasse. Tudo isso porque nós estávamos comentando um filme de Walter Salles... Bem, mas vamos ao show, que é o tema deste post. Foi bonito, viu? Uma casa de eventos pequena, duas centenas de pessoas, talvez, e muita devoção. Foi tocante a maneira como tanto o grupo holandês quanto o público brasileiro pareceram acolher a nova vocalista, que carrega o peso gigantesco de substituir uma vocalista, que é simplesmente o símbolo vivo do carisma. Ainda não deu para entender o que a moça espera, com o cabelo e as roupas idênticas à de Anneke no DVD “A sound relief”. Os trejeitos, os movimentos, também, em muitos momentos, remetiam à antiga cantora. Porém, mais delicada, com a voz mais suave e sua beleza particular, a moça bem que poderia deixar de vez a tentativa de ser o “cover” que sempre soa a frustração. Porque, quando consegue se desamarrar das imitações, Silje mostra que tem talento e luz própria. O show, com duas canções inéditas, três do último álbum – “The West Pole” e uma porção das antigas e mais pesadas do grupo – como “Eleanor” e “Shot to pieces” – agradou à maioria e terminou com a inacreditavelmente bela “Travel”, que, ao vivo, é mesmo de chorar. Bem, terminou, terminou não. Porque, aparentemente, a saída de Anneke fez com a banda se motivasse a ser mais extrovertida e se rendesse às atenções do público após o concerto. Muito marmanjo saiu de lá encantado com a baixista, Marjorlein Bastin, que desceu do palco para tirar fotos, distribuir autógrafos e até discutir a qualidade da cerveja brasileira com os fãs. Eu me fantasiei, sem o menor pudor, de tiete, e consegui o autógrafo de todos – todos! – os integrantes da banda, além de várias fotos, alguma conversa fiada e a palheta, que o guitarrista, René Rutten, entregou diretamente na minha mão. Ele, muito simpático, mostrou-se lisonjeado ao saber que havíamos passado quase dez horas viajando de ônibus, madrugada gelada afora, só para vê-los – e, pior, que não era a primeira vez que fazíamos isso. E precisa dizer que eu faria tudo de novo amanhã mesmo se fosse possível?!
(05 de julho de 2011)
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Conheço bem essa expectativa de quando um integrante da sua banda favorita é substituído. E ouvir, então, aquela música foda num cântico baixo em centenas de vozes, quase uma oração aos Deuses de Aço e Trovão... É bruto o sentimento.
ResponderExcluir(Mas não entendo mesmo essa diversão de listas... HAHA!)
Realmente desejo às pessoas de bom coração que gostem tanto de uma banda a ponto de fazer uma jornada até um show deles. Que fiquem colados no palco, que consigam autógrafos de TODOS os integrantes, fotos e até converse com eles. Faz bem...
ResponderExcluirO que eu pude presenciar junto com a autora do blog foi uma experiência assustadora, uma devoção coletiva ao que há de bom no mundo. O tal do Carpe Diem, talvez. É realmente importante ter algo que se goste bastante. Porque, senão, só sobra o amor próprio - e a programação televisiva.