quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Olê, olê, olê, olê, olê, olê, olá… Olê, olê, olê, cada día te quiero más…

Uns dias antes de viajar, eu acordava no meio da noite e pensava: “por que é que eu falei que eu ia?”, puxava o edredom sobre a cabeça e me sentia ainda mais invejavelmente confortável – invejável para mim mesma, que já projetava dias de frio intenso num futuro próximo. Mas que bom que eu vim. Ainda faltam, felizmente, alguns felizes dias para que esta viagem de quase um mês chegue ao seu final. Contudo, há acontecimentos que já a colocam entre as primeiras no ranking de melhores viagens de todos os tempos, quiçá da humanidade! Porque há, pelo caminho, sempre dissabores, muitas vezes corporificados em seres humanos, que impedem a perfeição das coisas. Ao mesmo tempo, porém, frequentemente são os mesmos seres humanos que enfeitam certos momentos ou que solucionam certas ameaças de desastre. Tudo muito ao acaso, que é um dos maiores prazeres de viajar: tropeçar na circunstância seguinte. Desta vez, por exemplo, houve a encantadora coincidência de estar em Montevidéu justamente no dia da conquista da Copa América pelo Uruguai. Foi delicioso asistir à partida com os uruguaios, gritar “¡Uruguai, no más!” e sair caminhando junto à multidão pela La Rambla, com um litro de “Patrícia” na mão, até o fatídico estádio Centenário, esperar pela chegada dos jogadores vitoriosos. Ventava tanto e fazia tanto, tanto frio, que a gente torcia para que alguém tivesse a brilhante ideia de começar uma ola, só para se movimentar um pouquinho. Foram mais de quatro horas de espera, em que eu simplesmente não acreditava na minha sorte, no precioso fato de estar ali, exatamente ali, exatamente naquele dia. Indescritível a minha tristeza quando, às duas da manhã, o grupo com que eu estava resolveu desistir e ir para casa, pobres mortais que teriam que trabalhar na manhã seguinte. Eu ainda cogitei ficar por lá sozinha, mas o instinto de sobrevivência falou mais alto. Os jogadores chegaram só duas horas depois, e isso nós ouvimos pelo rádio do carro de uma moça de coração bom que nos buscara na rodoviária, onde dormíamos, depois de andar por quase uma hora, já que a cidade era o puro caos naquela madrugada gelada, quando não havia táxi ou ônibus para voltar para casa. Haveria ainda muita aventura pela frente, é claro, encontros inacreditáveis e um presente que eu me dei e que guardei em segredo, com um medo enormemente justificado de que não se concretizasse: eu fui a Buenos Aires só e somente para ver o show do Anathema. Os detalhes eu contarei repetidas vezes nos próximos dias, mas vale adiantar que, chegando ao teatro às duas da tarde, conheci um grupo de roqueiros adoráveis, que me avisaram da iminente chegada da Anneke, que abriría o show dos ingleses, e com quem tive novamente a oportunidade de conversar e tirar fotos. A Anneke, vocês sabem, faz com que a gente queira ser uma pessoa melhor. Depois houve uma tarde inteira na fila, um telefonema emocionado de quem não acredita que a felicidade possa ser tão real, e a desastrosa descoberta de que eu só conseguiria assistir ao concerto se atravessasse metade da cidade atrás do bilhete, que eu havia comprado pela internet, mas que não resgataria na bilheteria onde estava. Sabe como é: eu não tenho livre arbitrio, a vida é que sempre escolhe por mim a modalidade “com emoção”, que é, de fato, a mais emocionante. Bem, mas deu certo, outra pessoa de bom coração e minutos contados no relógio do táxi depois, lá estava eu, na primeira, primeiríssima fila, em uma plateia que parecia uma torcida organizada, assistindo ao Anathema, ao Anathema… banda que quase havia visto no Brasil um par de vezes, que me arremessa a uma série de memórias, de paisagens, de pessoas e trajetos. Foi lindo: estar tão perto do palco que o guitarrista me sorria, talvez admirado com o tamanho da minha alegría. Ao final do concerto, eu estava “re feliz” e sentia pena dos dias que se seguiriam àquele… pobres dias, pensava eu, que nunca seriam tão bonitos. Mas – que sorte, ¡mirá vos! – eu estava enganada. (03/08/2011)

3 comentários:

  1. Acho que chegou a hora desse diário de bordo virar também um fotolog de viagens. Cadê as fotos? Rs.

    Anathema, Anneke, Uruguai campeão... acho que essa viagem concorre fácil entre as cinco melhores de todos os tempos. Mas cadê a segunda parte das aventuras?!

    ResponderExcluir
  2. Bom te ver feliz, minha amiga, você merece.

    ResponderExcluir
  3. Fiquei curioso em relação aos seus comentários sobre a viagem para Curitiba... Não vai escrever a respeito? Beijo

    ResponderExcluir