quarta-feira, 31 de outubro de 2012
A lei da troca equivalente
Há pessoas que nos funcionam como catalisadores: desencadeiam processos, mudanças, transformações, sem participarem ativamente da reação química – sem, às vezes, sequer se darem conta daquilo que implicam. Foi o que aconteceu com o Petrus. Eu estava em BH há poucos meses e ainda não tinha a malícia de desconfiar que alguém com um nome desses não poderia passar pela minha vida sem deixar sequelas. Ele tinha meia dúzia de anos a mais do que eu, os cabelos cacheados e a voz de um dublador de vilão da Sessão da Tarde. Com essa vantagem cronológica, havia, com certeza, feito, assistido, escutado uma série de coisas das quais eu sequer ouvira falar. Quanto aos livros, no entanto, nós empatávamos. Isso o maravilhava: nós discutíamos, de igual para igual, diversos autores, romances, poemas, e ele dizia que eu era sua Zélia Gattai. Em contrapartida, minha ignorância cinematográfica o incomodava. Um dia ele me disse: “Você deveria ter lido menos livros e visto mais filmes.” Foi um soco no estômago, embora não tenha sido pronunciado com essa intenção. Àquela época, eu já começara a frequentar o cineclube da Escola de Belas Artes, mas foi depois dessa frase que me tornei de fato presente: também às disciplinas, às leituras, às salas de cinema. Com ele, conheci o Almodóvar, vi meu primeiro filme com o Darín e aprendi a chamar o garçom de amigo. Sem ele, descobri o prazer de ir ao cinema sozinha, depois atravessar a Olegário Maciel ou a Praça da Liberdade, preenchida de um sabor que foi ficando cada dia mais íntimo e mais nítido: o da capacidade de, pelo filme, experimentar outras vidas, outras paisagens, outras escolhas; o de compreender que o cinema é uma beleza indizível, embora sobre ele se digam muitas coisas – como as que hoje balbucio: pancada em slow motion.
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Assisti a uma cerimônia de casamento muito bonita e, depois, participei de uma festa maravilhosa, no último sábado, no Parque Vale Verde, que dispensa comentários – o perfume da cachaça já vale mais que qualquer palavra. No domingo, fui ao show do Maná, no Chevrolet Hall, e descobri que o grupo mexicano tem bem mais a mostrar do que canções-chiclete como “Vivir sin aire”. Os dois eventos, no entanto, levaram-me a pensar em uma frase que caiu no gosto das pessoas de um tempo para cá: “enquanto não encontro a pessoa certa, eu me divirto com as erradas.” Duvido tanto da mística da “pessoa certa” quanto da crítica às “pessoas erradas”. Acredito mais no Renato Russo, em um verso otimista aprisionado em outra de suas tantas canções melancólicas: não existe amor errado. A gente sempre aprende alguma coisa, guarda belas recordações ou, pelo menos, torna-se capaz de cantar mais alto e com mais entusiasmo baladas cafonas nos concertos musicais. E, já que o tema da postagem é frase (ou é cinema? ou é música? ou?), deixo uma do Woody Allen, do excelente “Crimes e Pecados”: comédia = tragédia + tempo. That´s all, folks!
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Essa frase final pode ser interpretada como um tapinha na cara ou como um sôco no estomago, depende do ponto de vista... Mas uma coisa é certa, as pessoas passam pela nossa vida e deixam suas referências, influências, raízes e seus lugares escondidos em suas almas... Acho muito bonita essa característica do ser de desvelar-se e ao mesmo tempo sumir como se nunca o tivessemos conhecido completamente...
ResponderExcluirSe é possível ler a vida como se ela fosse uma ciência exata, que só permite o certo e o errado... Bom, a gente cortou a matemática do nosso horizonte não foi por acaso. O importante é isso mesmo, estar em mutação, aprender com as pessoas. No contato com elas, sempre há algum legado - uns mais transformadores, e outros, nem tanto.
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