sábado, 13 de março de 2010

As consolações do rock-farofa

Alain de Botton, um filósofo pop, autor dos livros “Como Proust pode mudar sua vida” e “As consolações da filosofia” (que virou série da BBC, anos atrás) escreveu, certa vez, que, quando estava triste, costumava ir a aeroportos e ficar lá, sentado, olhando as pessoas que chegavam e partiam. Para ele, a prática garantia o alívio de pensar num mundo cuja vastidão nós desconhecemos quando ensimesmados em nossas dores e frustrações. Imaginar, portanto, que o lugar presente é apenas um dos tantos destinos imagináveis, e que nossa alma-gêmea pode estar esperando por nós, sorridente, em uma cidadezinha no interior da Noruega, a qual não tivemos a sorte de visitar ainda, era o suficiente para trazer-lhe uma dose de satisfação e esperança no dia seguinte, no voo vindouro. Gosto do raciocínio de Botton, mas tenho um outro método para minhas consolações: eu vou a concertos de rock. É claro que os shows não possuem a estaticidade dos aeroportos, que permanecem lá, parados, com suas lanchonetes caríssimas, embora decolem os aviões e as bagagens. É preciso esperar que os produtores tragam grandes bandas e aceitem pagar o cachê exorbitante de cada uma delas e se submeter às exigências escandalosas de seus integrantes. Porém, como a gente sempre tem um motivo para estar triste mesmo, vem a calhar um bom show de rock a qualquer hora, em qualquer mês do ano. Além disso, na pior das hipóteses, há sempre uma banda local se apresentando no porão da Obra Bar Dançante, agora com ar condicionado. Enfim, propagandas à parte... Quarta passada, foi a vez de o Guns n´ Roses me fazer extravasar uma fase ruim em cada refrão de seus hits pegajosos, enquanto, no palco, explodiam luzes e imagens em alta definição. Sinceramente: o Guns está longe de ser um dos expoentes mais significativos da história da música; eles ficam ali no limbo entre o pop e o rock, e foi-se o tempo em que o Axl supria essa carência musical com seu shortinho de ciclista e sua bandana sexy. O sex appeal foi transferido para o guitarrista tatuado sem camisa, mas o buraco na qualidade musical, que é o que interessa, só se alargou, com a saída de Slash e companhia, e a perda de alcance vocal de Axl Rose, proporcional ao acúmulo de peso na região de seu abdômen. O show foi aquilo mesmo: um espetáculo pirotécnico, com canhões que cuspiam fogo a cada clímax sonoro, e com direito a chuva de papel vermelho em “Paradise City”. Mas houve a banda de abertura, ou o Sebastian Bach, que, diferentemente de Axl, passou os últimos anos em plena “atividade” – mesmo que essa palavra resuma sua participação em séries de TV como Gilmore Girls, reality shows e, louvável!, “Jesus Christ Superstar” na Brodway. Mas ele ainda tem vigor, e isso é inegável. Berrou, pulou, correu do começo ao fim, e falou português o tempo todo – uma simpatia! Resumindo: fui ao show para me sentir feliz, e valeu a pena. Afinal, ninguém resiste a baladas cafonas e adoráveis como “I remember you” e “Sweet child o´mine” ao vivo, no meio da multidão alucinada. Impossível ficar triste, apesar de todas as brutalidades dessa vida.

(13 de março de 2010.)

2 comentários:

  1. Não sei quanto a você, mas não acho nada relaxante ficar entre uma manada de homens sem camisa suando, pulando, e com um bafo de cerveja nada agradável.

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  2. Agora sim descobrimos pq vc vai a varios shows de Rock.
    Professora, ninguem merece "Sweet Child O'Mine", virou o maximo do clichê p/ jovens que dizem que gostam da velha geraçao do ROCK"N"R0LL, mas que realmente só conhecem os hits do Guitar Hero e do Rock Band. Haha geração movida pelos video games
    Pelo menos alguns jovens não estão com as almas condenadas ao emo, funk, sertanejo, rap, hip hop, e nem axé (ao contrário de uma grande população mundial, que no futuro se arrependerá profundamente, e poderá cometer suicídios e outras loucuras baseando-se ao seu passado).

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