Faz tempo que quero escrever sobre o Anathema. É quase como um tributo a uma das top five da minha lista de the bests. E hoje eu quase desisti de novo, porque saí para caminhar – uma dessas manhãs de domingo, ruas vazias, o mundo quase exclusivamente seu – e choveu. A chuva aumenta aquela sensação de monopólio do mundo, porque todos somem por detrás das paredes de concreto quando chove. Eu estava ouvindo Faith no More, depois Metallica... e, sim, foi muito bom correr sob a chuva ao som de “From whom the bells tolls”. Então, por isso, eu quase mudei o tema do texto. Mas, não, vamos falar de Anathema. Ou talvez nem tanto: você pode procurar informações mais precisas se entrar no site oficial deles: www.anathema.ws
Enfim. Eu ouço Anathema há mais de dez anos, e foi sempre aquela banda que trazia sentido a tudo. Foi por isso que quase enlouqueci quando eles vieram ao Brasil, cerca de quatro anos atrás, para duas únicas apresentações: uma em Brasília, outra em São Paulo. Era uma fase complicada, de muito trabalho e estudo intenso para a prova de Mestrado, e eu estava tentando economizar para fazer uma viagem maior... mas nada disso era desculpa. O Anathema viria ao Brasil! Só faltava arrumar alguém que gostasse deles tanto quanto eu... ou alguém que ao menos conhecesse a banda, o que já era bem difícil. Porém, como há gente demais no mundo, havia também um amigo querido que estava disposto a ir ao show comigo. (Só para constar: esse amigo é uma das pessoas mais cultas da face da Terra, só escuta música erudita, mas ele abre exceção para o Anathema – isso lhe diz alguma coisa sobre a qualidade do grupo?) E, para melhorar, esse meu amigo querido é ninguém menos que o tecladista do Tuatha de Dannan (se você ainda não conhece, não perca tempo: www.tuathadedanann.com.br), o que gerava uma certa esperança de que acabasse acontecendo uma jam session, uma pizza depois do show ou algo assim, quando eu teria a mágica oportunidade de ouvir de perto o sotaque desesperadoramente bonito do Vincent Cavanagh. Nos dias que antecederam o show, eu só pensava em inglês, falava inglês, fazia xixi em inglês. E assistia a vídeos do Anathema, ouvia Anathema, sorria Anathema. Reorganizei minha vida toda, consegui substitutos no trabalho, consegui a grana de que precisava e estava entusiasmadíssima. O show ao qual eu iria aconteceria no sábado. Eu viajaria para o interior, encontraria o pessoal do Tuatha, e nós partiríamos para São Paulo. Tudo assim, no futuro do pretérito mesmo: na sexta, o meu amigo querido telefonou, dizendo que não mais iria, porque o pai estava no hospital, muito doente, internado em uma dessas siglas como CTI ou UTI, não sei ao certo. Felizmente ele se recuperou – e passa bem, obrigada –, mas não a tempo de eu viajar para São Paulo. Lembro-me daquela noite de sábado, daquele vazio, olhando para a parede e me perguntando como é que teria sido estar lá, o que eles deveriam estar tocando naquele momento, e pensando na sorte triste que eu tinha. Então, na segunda-feira, meu amigo querido me enviou um e-mail: “você viu o que aconteceu no show do Anathema?” e seguia um linkizinho azul, como os que espalhei por este texto (que, entretanto, não ficaram azuis), pelo qual soube que o concerto simplesmente não acontecera. A casa de show onde eles tocariam não possuía alvará de funcionamento. Assim, enquanto a banda de abertura se apresentava, o organizador subiu ao palco, transtornado, dizendo que o Anathema tentaria tocar antes que a polícia chegasse. Mas a polícia chegou no início da primeira música e o concerto foi encerrado. Claro, ninguém devolveu o dinheiro e nem reparou a frustração dos fãs que ali estavam – e eu poderia estar entre eles. É claro, frustrada eu já estava, mas ao menos estava dentro de casa... Minha sorte, afinal, não era tão triste assim.
No meio do ano passado, o Anathema voltou à América Latina, e se apresentou em vários países vizinhos, menos, obviamente, no Brasil. O interessante foi que, às vésperas do show em Buenos Aires – ao qual cheguei a cogitar estar presente – conheci um cara (amigo de um amigo) que, nos primeiros trinta segundos de conversa, revelou adorar Anathema. Eu não acreditei. “Anathema!? Você gosta de Anathema? Eu amo essa banda!”, respondi. Ele me olhou assustado e disse: “Não. Você não gosta. Ninguém gosta de Anathema, ninguém conhece Anathema. Só eu.” “Pois então, gigante Polifemo, eu sou Ninguém...” O resultado foi uma madrugada inteira rodando a cidade à procura de um bar legal – o que era, na verdade, desnecessário, porque ele tinha a discografia completa do Anathema dentro do carro, as caixas de som eram potentes, e nossos amigos tiveram que nos aguentar cantando bem alto todas as músicas do “Alternative 4”, o meu favorito. Por fim, vale dizer que, para ser ainda mais apaixonante, o Anathema ainda gravou uma balada linda, lindíssima, com o meu nome no título: http://www.youtube.com/watch?v=2RG_n8v_fz8&feature=related
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Não é possível que o show não deu certo. Você fez alguma coisa... Alguma macumba, culto, num sei. Só sei que você fez alguma coisa...
ResponderExcluirO mais provavel é o universo estar conspirando ao seu favor
ResponderExcluirNão acho que o universo tenha conspirado a seu favor, ao menos não a princípio. O mais certo é que, depois de avacalhar, ele voltou atrás e te consolou do azar original. O que soa bem injusto com as outras centenas de fãs que lá estavam, sedentos pelo show, e que nada tinham a ver que esse "acerto de contas do universo" contigo. Para elas, foi uma tragédia sem precedentes. Seria o universo injusto? Vai ser é sua fé que é maior do que a dos outros fãs...
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