Quando tinha uns quatorze, quinze anos, costumava ler a coluna do Gustavo Ioschpe no Folhateen. Na época, ele tinha apenas dezenove anos, e fazia uma das suas duas graduações (uma em Ciência Política, outra em Administração Estratégica) na Universidade da Pensilvânia. E escrevia muito, muito bem. Ainda não era o economista renomado que veio a se tornar, mas já exibia uma maneira cosmopolita e crítica de ver o mundo. E eu morria de inveja dele. Porque o cara costumava escrever acerca de sua experiência de vida fora da terra tupiniquim (e ele gostava muito de usar esse adjetivo) e sobre como a gente só conhece o nosso país quando o vê do lado de fora, quando se está distante dele. No entanto, eu, àquela época, estava longe da oportunidade de sair do Brasil, mesmo que fosse para buscar muamba no Paraguai. Minha boca enchia d´água só de pensar em tomar um avião, cruzar oceanos, ficar perdida no centro de Paris. Mas era financeiramente impossível, cronologicamente impraticável. Anos depois, afinal, acabei inaugurando a viagem ao exterior na minha família. Fui a primeira, de todas as gerações, de ambas as procedências (paterna e materna) a cruzar uma fronteira. Depois outras. E ainda virão muitas, eu espero, porque agora, felizmente, consigo compreender o que aquele colunista lelesque queria dizer: a gente só aprende a entender o nosso país, com amabilidade e um tantinho de sarcasmo, quando passa dias tendo que se comunicar em uma língua estrangeira (que você descobre na prática que não sabe falar), cercado por pessoas que passam por você sem o notar – ou que, quando o fazem, nem sempre têm boas intenções. Depois de duas semanas na terra daqueles que perderam de quatro para a Alemanha, sozinha, tentando falar aquele “castechano” chiado, lendo Borges e Fontanarrosa, ouvindo o rock de Patrício Rey e sus Redonditos da Ricota (ah, esse “rrrrr” impronunciável), é muito bom voltar para casa. Claro, sentirei falta das belas praças e monumentos, de estar cercada pelos guapísimos porteños (o metrô parece mais uma agência de modelos!), de desayunar alfajores, tomar fernet com cola... Mas, devidamente guardadas as recordações, saboreio com prazer o meu sotaque (sem culpa), o clima agradável da manhã, a impagável sensação de estar de volta a um lugar onde é um pouco menos difícil confessar, pedir, xingar. É muito melhor ser a gente mesmo no nosso próprio idioma.
(27/07/2010)
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Eu também cruzei as fronteiras brasileiras indo para a Argentina,porém passando no Uruguai antes. A única coisa que não me agradou foi o trânsito, que naquele pedaço de terra é horroroso, não que tenha muito congestionamento, e não estou dizendo que não tem, mas em Buenos Aires se pode contar com os dedos os carros de um certo quarteirão que não estão amassados.Para você ter uma ideia, o ônibus em que eu estava bateu 3 vezes...Mas nada vence o alfajor...
ResponderExcluirFalando na visão externa do Brasil, nosso país gosta de ficar se gabando muito de que somos o "país do futebol", sinceramente, isso não é argumento, pelo menos os outros presidentes tem todos os dedos e sabem escrever e ler.
Realmente, nada melhor do que viver com o nosso próprio idioma. Mesmo com suas fraquezas, que são muitas, o Brasil oferece o melhor para vivermos.
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