Na semana passada, deixei o Colégio onde trabalhei por mais de cinco anos. O motivo foi justo: poder acordar depois do sol, caminhar sob ele nas manhãs suaves de outono e, sobretudo, estudar. Eu sou uma nerd disfarçada de metaleira; não dá mais para esconder esse fato. E eu sabia que seria difícil dizer adeus aos meus meninos. Passei os dias anteriores admirando-os em silêncio, levando-os gratuitamente para passear no pátio, vendo-os correr e se orgulhar das próprias produções de texto, achando bonito o jeito deles de apagar com paciência os erros gramaticais no caderno. Eu os fui deixando aos poucos, convencendo-me de que seria o melhor, de que suportaria a falta, de que logo eles me esqueceriam. Mas jamais imaginei que não me deixariam sair assim, impune. Primeiro foi um abraço, de uma colega-amiga, choroso e longo. Então ela me pegou pelo braço e disse: “Eu te levo.” Já dava para ouvir os barulhos, como um viveiro cheio de pássaros silvestres. E ela foi me conduzindo escada abaixo. E pude vê-los aos pouquinhos, dezenas, centenas de todos aqueles meninos por tanto tempo tão meus. Sinceramente, cá entre nós: eu me senti uma popstar. Eram câmeras e gritos e aplausos e o meu nome, repetidas vezes o meu nome. Depois, claro, veio o hino do Corinthians, sagrado. Foi uma alegria tão forte que eu não soube chorar. A cada passo, era um presente, um abraço, um apelo. Uma menina ruiva, como a do Charlie Brown, disse: “Você não vê? Todas essas pessoas te adoram! E você vai trocá-las pelo quê? O que pode ser mais importante do que isso?” Sem palavras, eu só sorri. Depois comi uma fatia de um dos cinco bolos confeitados, acreditei na sorte e declarei amor. Ainda houve um vaso de flores, que está perfumando a casa até hoje, um bilhete bonito na agenda, que o aluno – oh, só! – esfregou no coração antes de me entregar, um jantar maravilhoso com os professores, tão carinhosos... e houve, claro, aquele caderno. Passei toda a tarde de terça chorando sobre ele: ali estavam bilhetes de todos os meus alunos e colegas. E eu nunca li palavras tão lindas... sobre lutas e méritos, sobre “desalgemar” os espíritos para a beleza da literatura, sobre não poder reter para sempre as pessoas que amamos. Há dias na vida que, definitivamente, fazem valer a pena todos os outros.
(07/06/2011)
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Sempre emocionante ler de novo seu relato...
ResponderExcluirÉ, Amâncio... para você ver o quanto te amamos. Tivemos que disputar com unhas e dentes míseros 30 minutos para sua festa, pois cada turma queria ter seu próprio horário.
ResponderExcluirEm outras palavras, te AMAMOS !