terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Raios partam o ladrão de raios!

Aproveitei o fato de minha viagem de Carnaval ter dado errado para ir ao cinema assistir ao “Ladrão de Raios”. O filme é baseado no romance homônimo de Rick Riordan, livro que veio parar nas minhas mãos nas já comentadas mal-sucedidas férias de janeiro, e, a princípio, ficou relegado à pilha de obras que me emprestaram, sugeriram ou impuseram, mas que eu não tenho a menor vontade de visitar. Parênteses: o fato de todo mundo saber que você gosta de ler gera problemas como esse que, às vezes, resultam em boas surpresas. Foi o caso desse que é o primeiro volume da saga “Percy Jackson e os Olimpianos.” O livro é simplesmente delicioso, com excelentes pitadas de bom humor e ironia, sequências de frases muito bem escritas e um inteligente diálogo com a Mitologia Grega. Em certos momentos, o autor tenta resolver as situações de maneira meio forçada, por exemplo ao atribuir ao protagonista uma dislexia supostamente relacionada a sua facilidade em compreender o grego antigo, ou ao oferecer como endereço do “novo Olimpo” o Empire States Building. Mas, tudo bem, a gente engole, pensa que não conseguiria fazer nada muito melhor mesmo, e pronto. Na época, fiquei tão empolgada com a história, com a maneira como vamos associando as pistas para concluir a que personagem da Mitologia o capítulo se refere, ou o modo como vibramos com a ousadia de um pré-adolescente que envia de presente a cabeça da Medusa aos deuses, mostrando sua insatisfação por integrar uma batalha com a qual nada tem a ver – exceto, é claro, por ser um semideus. Pensei até em escrever ao autor e dar os parabéns. Outro parêntese: leio muita literatura infanto-juvenil, e é preciso reconhecer quando surge algo de qualidade. Foi quando descobri que havia o filme, prestes a estrear no Brasil. Todo mundo sabe que as transcriações (porque vão muito além de adaptações) de literatura para o cinema costumam ser decepcionantes. Claro: não há limite de páginas publicáveis (há somente um bom senso), enquanto o cinema hollywoodiano há muito já encontrou a fórmula numérica de minutos suportáveis das sessões. Assim, de página para minuto, perdem-se detalhes, somem personagens, descarta-se a ironia ou a poesia ou o bom gosto. Pois bem: o filme “O Ladrão de Raios” foi além: ele decepou o enredo. Excluiu algumas das cenas mais interessantes do romance – como quando Poseidon se manifesta, revelando-se pai de Percy; ou quando das aparições hilárias de Ares e seus malcriados rebentos – e, pior, trocou um desfecho ameaçador, em que Cronos, o Titã pai dos seis grandes deuses, é o grande culpado por toda a desordem, apresentando como vilão o filho de Hermes, um ladrãozinho bonito e limpinho, de cabelo loiro penteado para o lado. Ah, isso também: os protagonistas passam de crianças incompreendidas para adolescentes de olhos azuis, com hormônios saltitantes, para fazer saltitar os da platéia também. Típico. Quando o filme acaba, dá vontade de ser Caronte por um dia, e levar para o inferno as almas de certos diretores e produtores de Hollywood...

(16 de fevereiro de 2010.)

4 comentários:

  1. Senti a mesma coisa quando vi "Anjos e Demônios". O livro é muito bom, Dan Brown prende os leitores na história, além de nos fazer apegar pelos personagens.

    Já o filme eu não consegui ver de tão ruim que ficou. Não havia coerência com a história do livro, o passado de Robert Langdon foi deixado de lado. Às vezes me pergunto: quanto que Ron Howard pagou pra Dan Brown para estragar seu livro?

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  2. Hahahaha... adorei a resenha!

    Não sabia que esse filme era baseado no livro de que você me falou outro dia. Só pela cara do cartaz e do trailler, já fiquei desanimado. Para mim, estava parecendo que o filme ia ser uma imitação de Harry Potter, que eu detesto.

    Agora, você falou sobre as pessoas saberem que você gosta de ler: a não ser por parte dos amigos que têm bom gosto para leitura, isso só me traz aborrecimento. Outro dia, insistiram para eu ler "A Conspiração Franciscana". Li umas cem páginas, só para não recusá-lo logo de cara. Mas a sensação de ter jogado momentos preciosos da minha vida no esgoto não passa...

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  3. HAHA "CRIANÇAS INCOMPREEDNIDAS DE OLHOS AZUIS E HORMÔNIOS SALTITANTES" "E LEVAR PRO INFERNO A ALMA DE CERTOS DIRETORES E PRODUTORES DE HOLLYWOOD"

    SO VC MESMO PRA FZ ESSAS CRITICAS,"CONTRUTIVAS" E DEIXA-LAS TÃO HILÁRIAS, DIVERTIDAS E IRÔNICAS
    (SELO ANGÉLICA AMÂNCIO DE QUALIDADE)

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  4. Se tinha dúvida se ia ver esse filme, agora ela ja se foi
    bjos

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