Não foi, definitivamente, o peso que fez do The Gathering uma das melhores bandas do mundo. Na verdade, enquanto faziam doom metal cavernoso nos Países Baixos, ao estilo de Samael e Morbid Angel, ninguém ligava muito para o par de irmãos bem intencionados René e Hans Rutten. Foi certamente a entrada da vocalista Anneke van Giersbergen, quando da gravação do terceiro álbum, "Mandylion", com sua afinadíssima voz aguda, misto de força e doçura, que desviou o trajeto pantanoso que percorria o grupo, para um caminho, digamos, mais estrelado. O rock do The Gathering ficou mais alternativo, continuou pesado, mas ganhou velocidade e passou a soar mais leve, já que os vocais suavizavam qualquer sequência mais carregada ou distorcida. E os holandeses ganharam ainda um diferencial muito rentável: a imagem; isso não só por se tratar Anneke de uma moça bonita, com feições de musa da segunda geração romântica, mas por fugir ao clichê “dama do rock”, dessas que aparecem flutuando em videoclipes finlandeses, se é que vocês me entendem. Ao contrário: ela estava muito mais para skatista, bermuda e tênis, roqueira sem firula, dessas que chacoalham as madeixas por aí sem o menor pudor. E com um carisma inconfundível. Simplesmente não dá para não gostar da Anneke, querer chamá-la para tomar um café ou uma cerveja, mostrar-lhe a sua coleção de mangás, querer saber como vai o filhinho dela, o pequeno Finn. Experimente assistir a um DVD como “A sound relief” e tente me dizer o contrário! Mas, simpatia à parte... é notável a evolução do The Gathering desde o seu surgimento, em 1989, até os dias de hoje. Por fim, a banda passou a tocar em um estilo denominado trip rock, assim bem viajado mesmo, quase cósmico, com longas sequências instrumentais, e letras sensíveis, algo panteístas em certos momentos, culminando em canções belíssimas, uma atrás da outra, como acontece no excelente “How to measure a planet?”, de 1998. É, mas sabe aquela história de que o que é bom dura pouco? No início de 2007, Anneke anunciou sua saída da banda para montar um projeto solo, o Agua de Annique. Os meninos do The Gathering (e a baixista, Marjolein Kooijman) encontraram outra cantora, Silje Wergerland, para compôr “The West Pole”, trabalho de imensa qualidade, capaz de surpreender os grandes fãs da antiga vocalista, que pensavam que, sem ela, não haveria The Gathering. Quanto ao trabalho solitário – ou nem tanto – de Anneke, eles lançaram, no final do ano passado, seu segundo álbum, “In your room”. Escapa do mosaico sonoro do primeiro disco, heterogêneo demais, mas perde o peso; com um toque retrô, o trabalho é colorido, alegre e extremamente otimista. Não deixa de haver duas faixas tristinhas, bem ao estilo de “Day after yesterday” (do “Air”) ou “Saturnine” (de “If then else”, gravado ainda com o The Gathering). Porém, em geral, o álbum carece de harmonia mais elaborada, viradas surpreendentes de bateria, enquanto sobram sóis e “all right´s”. Há faixas em que você se sente literalmente com pompons nas mãos, liderando uma torcida qualquer. Mas, sinceramente, não encontrei até aqui melhor trilha sonora para começar o dia de bom humor. O que prova que, no rock, como em quase tudo, os chamados defeitos e as ditas qualidades são sempre relativos.
(20 de Fevereiro de 2010.)
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falar sobre o The Gathering é difícil, pois a sensação que se tem é sempre de estar abordando algo imensamente bom, mas que a maioria das pessoas ignora. e é a sensação que se tem escutando a banda. eles tiveram uma evolução muito grande ao longo dos vinte anos de carreira, o que é sempre admirável. lançaram ótimos discos, com belas e poderosas canções que passam por várias vertentes do rock. é bom ver uma banda em constante transformação, indo contra a corrente do "auto plágio".
ResponderExcluirmas, a verdade continua sendo a que muitos são os que preferem ignorar o trabalho desses holandeses. bom, mas não dá para salvar toda a humanidade. nós damos a dica. mas encontrar a salvação, aí é com cada um...