sábado, 6 de fevereiro de 2010

The Get Up Kids

Sabe, eu não tenho uma página no Orkut, Facebook ou afins, não sigo ninguém no Twitter, etc. Mas eu tenho um Flork. Trata-se de um site de relacionamentos famoso na Europa, que poderia ser descrito como um “Orcult”. Com o layout dos mais simples, espaço para apenas uma foto, e total privacidade na troca de mensagens, o espaço é ideal para pessoas que querem discutir música, literatura e cinema. Até hoje, raramente me frustrei com os membros do site. Muito pelo contrário. Outro dia, por exemplo, recebi uma mensagem de um compositor americano, que se dizia fascinado pelo fato de eu ter os Get Up Kids integrando minha lista de favoritos. Isso porque, segundo ele, o grupo lhe havia sido uma grande influência, tendo jamais alcançado o reconhecimento que certamente mereciam. Eu concordo. A banda, que surgiu em 1994, em Kansas City, e cujo som se define como “indie rock”, “lovecore”, ou “emo de primeira fase” (a respeitável!), me acompanha há cerca de dez anos, em formatos que servem de marco para uma série de transformações por que passou a indústria fonográfica nesse período. Pois bem: eu ainda era uma adolescente melancólica no sul de Minas, em Três Corações, quando um amigo gravou uma fita para mim, de cujo conteúdo bruto eu simplesmente não me lembro, mas em que ele, para aproveitar os minutos virgens do lado B, inserira três faixas do álbum “Something to write home about”. As canções eram adoráveis. Depois de ouvi-las repetidamente (sem chegar à exaustão), pedi que ele gravasse um tape exclusivamente com The Get Up Kids para mim. “Vou conseguir com um colega de trabalho”, ele respondeu, “o CD é dele”. Ótimo. Aguardei ansiosa a sua próxima visita, para descobrir que o tal colega, que respondia pela esdrúxula alcunha de “Cebolão”, havia dado um golpe na empresa em que trabalhavam, e fugido, naquela semana. Para compensar, meu amigo trouxe uma fotocópia que havia feito do encarte, para que eu me consolasse com as letras – que eram muito boas, diga-se de passagem. Por sorte – foi o que pensei –, outro amigo começou a namorar a esposa abandonada do fugitivo, uma moça de cabelos vermelhos bem ao estilo “Corra, Lola, corra”, e me prometeu que conseguiria o referido CD. Acontece que, antes de desaparecer totalmente do mapa, o tal Cebolão havia passado em casa e recolhido alguns artigos de sua grande estima, tendo, dentre eles, o álbum dos Get Up Kids. Fazer o quê? Eu teria que me contentar com as três adoráveis canções e a xérox do encarte. Entretanto, meses depois, talvez mais de doze até, comecei a namorar um rapaz de Lavras, fã de Cannibal Corpse, para o qual apresentei a tríade das músicas de lovecore. Então, em uma viagem a São Paulo, hospedado na casa de um primo, ele se deparou com a maravilha das maravilhas: a internet a cabo, “speed” ou algo que o valha. Na época, internet discada era um luxo, especialmente em cidades do interior. Só as metrópoles mesmo podiam gozar da rapidez de uma conexão que não deixasse ocupada a linha telefônica. Ele voltou, disse que tinha uma surpresa e, diante da minha ansiedade esperançosa, enviou os CD´s (eram quatro) por uma amiga lavrense com a qual eu me encontraria em Varginha. Ele não disse do que se tratava, mas escreveu sobre o embrulho pardo-claro: “Suicidal Tendencies”. Eu gostava de Suicidal Tendencies, mas não era exatamente com isso que eu sonhava... Mesmo assim, quando cheguei em casa, numa hora qualquer perto da meia-noite, coloquei o CD para tocar. Dez segundos depois, eu era a pessoa mais feliz do mundo! The Get Up Kids!!! Assim, completo, uma canção melhor do que a outra, mais alegre, mais triste, mais bonitinha, mais visceral, mais Get Up Kids. Perdi a conta de quantas vezes eles foram a trilha sonora dos meus grandes momentos. Mas lembro que, no exato dia em que me mudei para Belo Horizonte, e fui tomar o meu primeiro banho na república nova – casa nova, cidade nova, vida nova –, fiz questão de colocar “Four Minute Mile” para tocar, porque se encaixava com aquele gosto de liberdade que eu começava a descobrir. Depois, com as novidades nem sempre felizes de uma vida independente (cheia de contas e obrigações), deixei de acompanhar a evolução da banda – sem parar de ouvi-los, é claro. Até que, pouco tempo atrás, um aluno me presenteou com um DVD, que condensava a discografia completa do grupo – somada a todos os álbuns de outros queridos afamados, como Galaxie 500 e Elliot Smith. Pois é: das três musiquinhas daquela delicada fita, aos acessíveis vídeos do Youtube, os fáceis downloads de raridades e a troca de opiniões e elogios pelas mensagens do Flork. De fato, “something to write home about.”

(06 de janeiro de 2010)

3 comentários:

  1. Ainda não conheço The Get Up Kids. Mas achei bem interessante a dica do site de relacionamento. Eu já estou meio de saco cheio de orkut e facebook.

    Gosto do seu texto! Muito prazeroso de ler.

    Abraço!

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  2. eles são de Kansas Citty, é?
    ha! alguém fez uma visitinha à Wikipedia.
    o seu texto poderia ser classificado como sobre a globalização. as indas e vindas que foram necessárias para você ter a discografia dos emos dignos mastigadinha em mp3 não foram poucas. viva à boa música e ao desrespeito aos direitos autorais!

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  3. Para mim, The Get Up Kids sempre terá gosto de Gelly (se você me permite a sinestesia), especialmente o "Something to Write Home About". Foi a primeira banda/cd que me apresentou, não sei se você se lembra. E esse lance de "emo de primeira fase"? Sunny Day Real Estate deve estar dentro, né, lançaram o primeiro álbum em 1994. Um belo álbum. Agora, tem um disco do The Ataris, o "Blue Skies, Broken Hearts...Next 12 Exits", que eu acho o típico som de filme adolescente americano, mas que eu não consigo deixar de gostar. Bem, mas isso tudo são apenas divagações. Gostei muito da narração das suas histórias com essa banda aconchegante. Dá pra usar essa palavra? É como me soa.

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