terça-feira, 19 de junho de 2012

Planeta dos Macacos?

“Singles”, “Curtindo a vida adoidado”, “Sem licença para dirigir”, “Minha mãe é uma sereia”. Filmes assim compuseram a minha infância, a minha pré-adolescência e todo o meu imaginário do que seria a vida adulta. Durante as “Sessões da Tarde” – cuja antiga programação hoje integra ironicamente a grade de horários do “Telecine Cult” -, eu me projetava naqueles personagens de cabelos armados, em seus dramas amorosos, suas trilhas sonoras, suas camisas xadrez e seus cotidianos tão norte-americanos. Sonhava com aquele armário de metal dos alunos de colégio, sofria com a possibilidade de não ter par para o baile de formatura, e morria de vontade, pasmem, de frequentar a academia. Quem me conhece sabe que, se não era a última a ser escolhida para o time, é porque logo consegui um atestado para não fazer educação física. Sempre morri de medo da bola. E, ao longo da vida, eu só me envolvi com atividades esportivas solitárias: um pouco kung fu, de dança e de natação. Meu raciocínio era o de não atrapalhar ninguém: se eu apanhasse, apanhava sozinha, caía sozinha, me afogava sozinha... Hoje, então, “na idade adulta”, eu frequento a academia – e gosto é de fazer meus exercícios longe de todo mundo, que, se o peso for cair no pé de alguém, que seja no meu. Mas as academias – e as atividades físicas, em geral – têm mesmo muitas vantagens. A gente se sente saudável só de colocar um par de tênis. E, de fato, há anos meu colesterol bom está ótimo, e meu alongamento é uma beleza, e, ainda que em termos estéticos haja sempre o que se possa melhorar, tenho ganhado nota máxima nos exames médicos. Além disso, a gente aprende a cuidar melhor da alimentação, porque sabe a quantidade de aeróbico que precisa fazer para queimar as calorias de um bombom. E tem toda aquela conversa sobre a endorfina e a tal sensação de euforia e bem-estar, que tem lá o seu fundo de verdade. Acontece, no entanto, que entre uma dezena de repetições de determinado exercício e outra, há um tempo de pausa, em que se abre espaço para pensar na vida e reparar nos outros. Hoje, enquanto descansava, olhei para o lado e me deparei com um indivíduo alto, magérrimo, que, posicionado sobre uma prancha vertical, realizava um exercício abdominal peculiar: ele descia o braço para um lado, com uma das pernas no chão e a outra esticada, no ar, depois se dobrava sobre a cintura, com as mãos na cabeça, e a perna flexionada. Ele mesmo se descreveu como um louva-deus, e acrescentou: “se não tivéssemos descido da árvore, nada disso seria necessário. A gente, de pular de cipó em cipó, já trabalharia braços, pernas, abdômen...” e rabo! De fato: houve algum erro muito grave na evolução da espécie humana, que, supervalorizando, durante um longo período, os supostos superpoderes da razão, esqueceu-se da importância de cuidar do corpo. E agora, ironia dramática: nada menos racional, ao menos a princípio, do que uma academia de ginástica: a gente paga caro para sofrer, carregar peso, fazer esforço, colocar-se em posições constrangedoras – quiçá, imorais! –, correr sem chegar a lugar algum, e ainda tem que ouvir música ruim fazendo tudo isso. Viver em árvores... Pois é, deveriam fazer mais filmes sobre isso... (19 de junho de 2012)