terça-feira, 27 de julho de 2010

Hasta pronto – yo espero

Quando tinha uns quatorze, quinze anos, costumava ler a coluna do Gustavo Ioschpe no Folhateen. Na época, ele tinha apenas dezenove anos, e fazia uma das suas duas graduações (uma em Ciência Política, outra em Administração Estratégica) na Universidade da Pensilvânia. E escrevia muito, muito bem. Ainda não era o economista renomado que veio a se tornar, mas já exibia uma maneira cosmopolita e crítica de ver o mundo. E eu morria de inveja dele. Porque o cara costumava escrever acerca de sua experiência de vida fora da terra tupiniquim (e ele gostava muito de usar esse adjetivo) e sobre como a gente só conhece o nosso país quando o vê do lado de fora, quando se está distante dele. No entanto, eu, àquela época, estava longe da oportunidade de sair do Brasil, mesmo que fosse para buscar muamba no Paraguai. Minha boca enchia d´água só de pensar em tomar um avião, cruzar oceanos, ficar perdida no centro de Paris. Mas era financeiramente impossível, cronologicamente impraticável. Anos depois, afinal, acabei inaugurando a viagem ao exterior na minha família. Fui a primeira, de todas as gerações, de ambas as procedências (paterna e materna) a cruzar uma fronteira. Depois outras. E ainda virão muitas, eu espero, porque agora, felizmente, consigo compreender o que aquele colunista lelesque queria dizer: a gente só aprende a entender o nosso país, com amabilidade e um tantinho de sarcasmo, quando passa dias tendo que se comunicar em uma língua estrangeira (que você descobre na prática que não sabe falar), cercado por pessoas que passam por você sem o notar – ou que, quando o fazem, nem sempre têm boas intenções. Depois de duas semanas na terra daqueles que perderam de quatro para a Alemanha, sozinha, tentando falar aquele “castechano” chiado, lendo Borges e Fontanarrosa, ouvindo o rock de Patrício Rey e sus Redonditos da Ricota (ah, esse “rrrrr” impronunciável), é muito bom voltar para casa. Claro, sentirei falta das belas praças e monumentos, de estar cercada pelos guapísimos porteños (o metrô parece mais uma agência de modelos!), de desayunar alfajores, tomar fernet com cola... Mas, devidamente guardadas as recordações, saboreio com prazer o meu sotaque (sem culpa), o clima agradável da manhã, a impagável sensação de estar de volta a um lugar onde é um pouco menos difícil confessar, pedir, xingar. É muito melhor ser a gente mesmo no nosso próprio idioma.

(27/07/2010)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Escrevendo como o Tostão (ou: Por que ele está na Folha e eu não?)

Eu não quis escrever sobre a Espanha antes da final, embora os amigos mais próximos soubessem que era dela o meu coração desde o princípio, para não agraciar certos alunos (queridos alunos, claro) com uma piada pronta: se a Espanha perdesse, diriam eles que era por culpa minha, porque ter corintiano na torcida dá azar, que todos os times para os quais eu torço sempre perdem etc. Pois é. Provavelmente, surgirão agora com um “até que enfim você escolheu um vencedor” e algo do tipo. A verdade, creiam ou não, é que torci pela Fúria na Eurocopa de 2008 – quando eles apresentaram um futebol simplesmente memorável – e já admirava (nos dois sentidos) o goleiro Casillas desde a Copa de 2002. Mas houve momentos em que, confesso, titubeei: o exagerado toque de bola espanhol, que, muitas vezes, resultava ineficaz, dava uma certa canseira. O Fernando Torres – El Niño Torres! – passou longe do espetáculo avassalador que seu apelido sugere. E a campanha surpreendente do Uruguai, com o bloqueio inesquecível de Suárez, deram uma desviada no rumo da minha torcida. Uma coisa é certa: não torci pelo Brasil, apesar de ficar feliz quando faziam gols os fabulosos e afins. Nem pelo Maradona, embora admire o futebol raçudo dos nossos hermosos hermanos. Concordo que a Copa do Mundo apenas eleja a seleção que jogou melhor neste mês, sendo arbitrárias demais as classificações dos melhores do mundo. Porém, frente ao resultado deste ano, há de se reconhecer que há mais de dois anos são os espanhóis e os holandeses que têm apresentado o futebol mais estável, com destaque para a atuação, especialmente quanto aos primeiros, de grande parte de seus craques dentro de casa, sem trocar a cor da camisa por um milhão a mais na conta bancária. Mas isso já é uma questão de oportunidade. O que representa poder atuar no próprio país, defendendo um Real Madrid, é bem diferente das opções duvidosas dos nossos jogadores no Brasil: pode-se até pagar (estrondosamente) bem a um dos nossos jogadores, mas ele precisa ter feito uma excursão pelo exterior primeiro. E olha que o Bruno estava quase indo pro Milan... Bandido! Se tivesse sido preso antes, não teria defendido aquela falta perfeita do Chicão, meses atrás, e o Timão ainda estaria na Libertadores. Mas essas já são outras histórias. Por ora, celebremos La Fúria!, que é o que dá para fazer por enquanto.
12/07/2010

domingo, 4 de julho de 2010

Woodstock – ou “Que será, será”

Vem aí a versão pós-moderna do Woodstock, que, segundo as boas línguas, acontecerá entre os dias 10 e 12 de outubro, em uma fazenda em Itu, interior de São Paulo. O evento – que possivelmente ganhará outro nome – tem sido o tema favorito das conversas entre roqueiros ou aspirantes a, que afirmam estar indiscutivelmente dispostos a dar as caras por lá, independente das intempéries dos acampamentos, da possível desordem e da grande probabilidade de a chuva enlamear certos riffs de guitarra nessa época do ano. Os ingressos, ao que parece, começam a ser vendidos já neste mês de julho, e as presenças quase confirmadas incluem nomes como Incubus, Pixies e Limp Bizkit. Mas, para falar a verdade, o que se tem até agora é uma dose cavalar de deliciosas especulações, que possibilitam, em teoria, a realização de vários dos nossos sonhos de roqueiros. A gente fica levantando hipóteses e tentando desvendar enigmas. O Pearl Jam, por exemplo, incluiu, na sua lista de seus shows, o ano de 1969 (quando, é claro, a banda nem havia surgido, mas quando aconteceu o primeiro Woodstock), como se desse uma dica aos fãs do que viria por aí – ou de que viriam por aqui. Da outra vez, em 2005, antes de anunciar os shows no Brasil, puseram “Garota de Ipanema” para tocar no site, grupo criativo que eles são, com seus encartes especialíssimos, anti-monopólio. Bem, serão cerca de sessenta bandas: é espaço suficiente para que muitos de nós façamos nossas apostas, imaginemos uma sequência de grupos e de setlists... Rage Against the Machine, Alice in Chains e sabe-se lá quem mais. Sonhemos. Enquanto tudo é sonho, tudo é possível.

(04 de julho de 2010)