domingo, 13 de março de 2011

Se um taxista numa noite de verão...

Foi um trajeto curto, do Lourdes à Savassi, de um aniversário a uma despedida. O taxista disse: “Oi, menina!” E daí não parou. Além do endereço ao qual me dirigia, o que falei foram só frases fáticas, procurando incentivá-lo a continuar o solilóquio. “Agora que o Carnaval acabou, está quente... porque aquela chuva ninguém aguenta! E o pior é o que aconteceu no Japão... antigamente a gente lamentava três, quatro mortes. Agora, mais de mil. Mas, também, com a violência em que esse mundo anda, é melhor acabar tudo mesmo. E vai acabar, porque há tanta bomba atômica por aí. O Iraque mesmo tem três bombas apontadas para o Brasil. Agora, eu fico imaginando, o que não pode acontecer é a Dilma, que é terrorista, namorar um cara desses... Pensa bem: eles constroem um balão, destroem o mundo, e passam meses lá em cima, no céu, namorando. Porque, você vai ver, a Dilma será a pior presidente que esse país já teve. Porque o Lula a deixou numa caixa de marimbondos! Só tem PMDB em volta dela. E uma hora dessas ela fica doente aí, e não melhora mais... porque o Michel Temer é capaz de mandar matar ela! Ela que não abra o olho... O mundo está muito violento.” Eu aproveitei dele a pausa para tomar ar, e brinquei: “É, igual novela do Gilberto Braga! Só maldade.” Porém, ele gostava era de Manoel Carlos: “Eu não vejo mais novela... Antes eu trabalhava de manhã e via aquela “Viver a vida”, com a Taís Araújo, que na época eu tinha uma namorada que parecia com ela. Pensa bem, que cara-de-pau! Eu ficava vendo a novela com a patroa, pensando na Pollyana... a gente tinha um código: ela ligava, eu a chamava de Paulo. Mas era uma mulher perigosa. Esses dias, a gente marcou de encontrar. E, pensa bem, eu sou uma pessoa que acredita muito em horóscopo. E eu tinha lido que aquele dia seria de muitos contratempos. E foi mesmo. A mãe dela ficou doente, precisou ir ao hospital e deu tudo errado. Mas a gente tem é que fazer isso, menina: viver a vida. Porque, se não,” – e aludiu ao título de outra novela, essa da Glória Perez, “o coração explode.”

(13/03/2011)

6 comentários:

  1. Pior que o constrangimento de pegar táxi sozinho é ficar num elevador com uma pessoa que você não conhece: você não sabe se puxa conversa, se fica quieto, fica na sua balançando em cima dos pés...

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  2. Quanta diversão! Se os taxistas ultimamente são mais calados, você encontrou um que fala por todos. E é genial essa história da Dilma namorar um terrorista iraquiano. Quem sabe as três bombas atômicas apontadas para o Iraque não são para o caso do Michel Temer mandar matar a Dilma?
    Pessoas que fazem do mundo um lugar mais nonsense: meu muito obrigado.

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  3. o.o

    ô.ô

    O.O

    Ô.Ô

    cara....que taxista fodástico, hein?

    (com o perdão do meu francês)

    -ass.
    alguem que aprendeu literatura com toques gelados de fragilidade...

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  4. Hahahahahah sua vida merece um livro :D
    Que taxista mais criativo!

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  5. Ainda espero entender um pouco mais sobre a arte das filosofias populares. ex: Táxis, banheiros públicos, ônibus, bares, etc.

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  6. Me lembrou um amigo comentando de um garçom que para justificar o por quê de a máquina de visa electron não funcionar disse:

    "É essa chuva. Como não para, os satélites ficam todos muito molhados e perdem o sinal."

    Vai entender...

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