sábado, 4 de fevereiro de 2012

A costa do Sauípe

Ainda me lembro da primeira vez que ouvi alguém me descrever como uma pessoa inteligente. Desse momento em diante, fui tomada por uma inelutável maldição: a de tirar boas notas e dizer coisas certas – como se isso fosse possível o tempo todo. O que pouca gente sabe, porém, embora eu tenha muita dificuldade em disfarçar, é que sou uma completa nulidade em Geografia. Posso jogar a culpa nos meus professores que, armados ora de incompetência ora de pouco caso ora de ambos, formaram um verdadeiro complô que nos desestimulava ao aprendizado dessa disciplina. Mas verdade seja dita: os livros, globos terrestres, atlas, Goople Maps estão aí a serviço de todos, e a culpada sou eu por nunca me esforçar. E essa indolência, como tudo na vida, tem um preço. Dias atrás, passeando por minha terra natal, pegava carona com um casal de amigos que tem o feliz hábito de viajar sempre. A noite havia sido divertidíssima, tudo corria bem, e eles estavam prestes a me deixar em casa, quando resolveram me contar da maravilhosa estadia na Costa do Sauípe. Eu já havia lido aquele nome nas propagandas da CVC, mas jamais me interessara em saber do que se tratava. Eles continuavam a descrição, falando do resort, dos drinks, da mordomia. E eu, no banco de trás, torturava-me com a total ignorância de não ter a mínima ideia de onde ficava aquela merda de lugar. E eu podia ter simplesmente perguntado: “onde fica essa merda de lugar?”. Mas não. Eu vasculhei na minha cabeça, cavei fundo até encontrar a pergunta mais estúpida que poderia ter feito nesse contexto: “E como vocês se comunicaram?”, porque, para mim, um nome assim, com um resort daquele nível, só poderia estar ali por aquela bagunça da América Central, e eu sabia que eles não falavam espanhol. Minha amiga, envergonhada por mim, gaguejou: “Ué... fica na Bahia... todo mundo falava português...” “Ah...”, eu respondi, sem mais nada a dizer, e desci do carro, totalmente desconcertada. Fez pensar em um ditado chinês que diz que quem pergunta é bobo por três minutos; quem não pergunta é bobo pela vida inteira. Só falta acrescentar que, para ser menos bobo, é preciso também fazer a pergunta certa.
(04 de fevereiro de 2012)

2 comentários:

  1. Eu adorei essa história! :D Só demonstra que nós todos temos o direito de errar... Ainda que não nos permitamos tanto.

    ResponderExcluir
  2. "Nao há preguntas bobas, há bobos que nao preguntan"

    Muitas veces a gente crece preguntando, mas outras tantas o faz lendo ainda aquelo que nao nos gosta.
    "Porque a mente é como um paraquedas"

    ResponderExcluir