terça-feira, 16 de julho de 2013

Ritornello

Depois de tomar uma Guinness em um autêntico pub irlandês, tirar uma foto ao lado da estátua descontraída de Oscar Wilde em Merrion Square e dormir no chão de Londres, fui para a Itália, subir trezentos e vinte degraus até o topo da Basílica de São Pedro. Roma foi uma asfixia: o calor de quarenta graus, a horda de turistas ensimesmados, as caminhadas intermináveis e o sufoco de estar sob o peso de tantos séculos de História. As ruínas, as termas, o Coliseu, a arte antiga, as igrejas e tanto ouro revestindo suas paredes, a luz colorida dos vitrais, os órgãos em sua magnificência de tubos, o enigma de cada quadro da Capela Sistina. A beleza cinematográfica das praças, parques, das esculturas, a Fontana de Trevi, tão felliniana, lembrando a todo o momento o quanto a vida pode ser doce. E, depois, num domingo de abençoada chuva, os estúdios da Cinecittà e o fascínio de estar diante do figurino de Claudia Cardinale em “Era uma vez no oeste”. Mas Roma foi ainda mais que isso: foi o prazer de estar com duas amigas brasileiras, que conheci em Paris, uma antropóloga e uma historiadora, escolta perfeita para uma visita contextualizada aos museus; confidentes, companheiras, nós nos unimos por um mote: allons que allons! E, assim, nós fomos! Tomamos o trem, embevecidas com os campos de girassóis e a paisagem sem adjetivos da Toscana, e chegamos até Florença. E então eu me paraliso para um longo suspiro. Ahhhhh... Florença! As ruas, a arquitetura, o sorvete, a bisteca fiorentina do “Mário”, o pôr-do-sol na praça Michelangelo, tomando chianti e comento cantucci, e rindo muito de uma série de piadas internas que, por muito tempo, só a gente vai entender – porque depois, é possível, nem a gente. :) E em Florença está o David, estátua pela qual merecidamente se derrete de amores, e o paraíso estético da galeria Uffizi. Todo mundo está lá!! Boticelli, Rubens, Tiziano, Caravaggio, Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio, Brueghel... Chega a ser estafante de tão bonito. A impressão que fica é a de que é preciso voltar, passar uma tarde inteira em cada sala; voltar, aliás, à Itália, onde todos os dias são domingo, o domingo da macarronada e da família – barulhenta! – reunida, das escadas rolantes vagarosas, em que ninguém ultrapassa ninguém, porque a vida é para ser experimentada como uma refeição de muitas horas e diversos pratos. (16 de julho de 2013).

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