domingo, 3 de novembro de 2013

Diferentes tons de espetáculo

Sexta passada, fui a um show de rock como quem vai ao cinema: conferi o horário da sessão, tomei um banho, troquei de roupa, peguei o metrô, fiz fila, mostrei meu bilhete, comprei um “demi” (como quem compra um pacote de pipocas), troquei meia dúzia de palavras fiadas com uma moça na entrada, encontrei uma boa posição diante do palco, como se fosse de uma grande tela. Tocou a banda de abertura, uma espécie de sequência de trailers e publicidades, que retardam a chegada do filme. Então faz-se escuro, surgem os músicos, um a um, posicionando-se, e você sabe que o espetáculo irá começar. Eu me refiro ao show do Antimatter, grupo discidente do Anathema, que tocou no Divan du Monde, no último dia primeiro. O estranho foi que tudo continuou da mesma maneira, como um filme. O público não se movia, não cantava, não se manifestava. Em geral é assim por aqui e, em determinados momentos, isso é muito frustrante. É como se a plateia assistisse a uma orquestra e esperasse o fim da sinfonia para aplaudir. Eu era a única pessoa que movia os lábios acompanhando a letra das canções – porque, se cantasse em voz alta, certamente me pediriam silêncio. Até aí tudo bem, questões culturais, a gente entende. O problema foi que a banda retribuiu a gentileza e sequer olhou para o público. Tocaram como zumbis e, quando começavam a minha música favorita, ouviu-se um inacreditável “no, no, no, guys! Stop!” Era o toque de recolher para a entrada do grupo seguinte, “Swallow the sun”. Eles não discutiram. Desvencilharam-se de seus instrumentos, disseram um discreto “merci”, recolheram todas as palhetas (claro que eu, na primeira fila, ansiava tantalicamente por uma delas para compor minha coleção) e desapareceram. Fiz o mesmo. Do lado de fora, chovia; eu havia esquecido o celular em casa e não pude tirar sequer uma foto. Sem dúvida, o Antimatter, para mim, ficou com muita cara de anticlímax. *** Uma semana antes, porém, no Nouveau Casino, tive a honra de rever – pela quarta vez! – Anneke van Giersbergen, numa postura muito mais rock do que nas aparições mais recentes, tocando integralmente o último álbum, “Drive”. Os cabelos profundamente vermelhos, a voz ainda impecável, a jaqueta preta de couro, no entanto, não escondem o fato de que a moça está cada vez com mais ares de popstar. Não é uma crítica: ela deixou o The Gathering porque queria, justamente, fazer outro tipo de trabalho. As canções são deliciosas de dançar, os refrões têm aquele jeito saboroso de grudar na língua da gente, mas não vou negar: dá muita saudade do tempo de “Nightime birds” ou do “Mandylion”. Mas fazer o quê? Como entoam quase todas as músicas da nova fase da cantora, o jeito é “to live on”... Afinal, “we start today”... *** Today, graças ao namorado de uma amiga, que nos presenteou com duas entradas, fomos assistir à final do Paris Open de tênis. Eu só conheço do esporte o que aprendi com o vídeo game, mas foi uma experiência extraordinária estar no Palais Omnisport de Paris, em Bercy, assistindo a uma partida entre dois dos melhores tenistas do mundo, David Ferrer e Novak Djokovic. Percebo que o meu vício por futebol me impediu, por tantos anos, de enxergar a beleza na agilidade das raquetes. O que mais será que eu perdi? Vou prestar mais atenção aos outros esportes, nas Olimpíadas de 2016... (03 de novembro de 2013.)

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