domingo, 9 de janeiro de 2011

Texto de Ano Novo

Duas cenas: 1) No salão de beleza, à espera da tortura bimensal da depilação, ouço gargalhadas em série, dessas de alegria genuína. Olho pela janela, que dá para um quintal, e lá está uma menina, de uns cinco anos, que se diverte sozinha com um banho de mangueira num dia de sol quente. 2) Chegando ao colégio, dois meninos jogam futebol, sendo que um deles se posiciona diante de uma rampa. Resultado: a bola, a todo momento, escorrega para o pátio e o garoto precisa correr até lá para buscá-la e, então, dar continuidade ao jogo. Assim que o vejo, penso:“Que injustiça! Ele está sendo prejudicado... devia pedir que revezassem o lado do gol.” Mas olho para o menino e vejo que ele sobe e desce a rampa com olhos que estalam de euforia, totalmente alheio a isso que, a meu ver, é um inconveniente. Porque, para ele, tudo faz parte da brincadeira. Quantas vezes a gente, com medo de ser enganado, de fazer papel de bobo, irrita-se por pouca coisa, e acaba perdendo o melhor da festa... A gente leva tudo a sério de mais, e se esquece de pensar no que pode simplesmente fazer parte da brincadeira. Porque ser feliz é tão fácil: basta um banho de mangueira, uma fanta uva com doritos no banco da praça, um livro bom. Tão mais perto do que sugere aquela palavra difícil, que a gente só usa nos cartões de final de ano: “Um PRÓSPERO ano novo!” Tão mais simples... que me faz pensar em outra cena: 3) O aluno, na aula particular, refestela-se na cadeira, entediado. A professora diz: “Senta direito, menino!” Ele a olha bem nos olhos, com intensidade, e responde num suspiro: “Ah, fessora... Vocês, adultos, são todos iguais.” Sad, but true?
(09/01/2011)

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