sábado, 5 de maio de 2012

Precisamos escolher melhor nossos imperadores

“O goleiro é aquele que fica parado, sozinho, esperando pelo pior”. É com uma frase assim que tem início o bom “O ano em que meus pais saíram de férias”, filme brasileiro de Cao Hamburguer, lançado em 2006. Poucas vezes uma profissão foi tão bem definida quanto nessas palavras. Toco nesse assunto hoje porque, durante quase duas semanas, ele ficou entalado na minha garganta. A cada fotografia tendenciosa, cada comentário maldoso, cada ataque em rede nacional, eu só conseguia me condoer um pouco mais pelo goleiro do Corinthians, Júlio César. Ainda que sua atuação contra a Ponte Preta, quando da inacreditável eliminação do Paulista, tenha sido de fato bastante prejudicial à equipe, há muito tempo não vejo um jogador vestir a camisa do Timão com tanta entrega, tanta sacralização, tanto afeto. A maneira como apoiou, na última quarta, o promissor Cássio, que jogou em seu lugar contra o Emelec, é prova de que Júlio César é, antes de tudo, um torcedor, e, sobretudo, um torcedor corintiano. Faz lembrar o Ronaldo, o outro arqueiro, que defendeu o gol alvinegro por toda uma década. E os números falam por si: a defesa menos vazada dos campeonatos disputados este ano; invicto na Libertadores; quase ileso no Paulista; campeão brasileiro do ano passado. É evidente que o elenco e o esquema tático retranqueiro de Tite contribuem, em muito, para esses resultados. Mas quem estava no gol era ainda o Júlio César – que também ganhara, duas vezes seguidas (2004 e 2005), a Copa São Paulo de Futebol Júnior pelo time paulista. Assim, o massacre que tem vitimado o jovem futebolista, diante da mídia que quer sempre alguém para sacrificar, merece, no mínimo, uma ressalva: que seja exposto o outro lado da moeda, as jogadas decisivas, os pênaltis defendidos, o apoio aos companheiros de equipe, o amor à camisa. Afinal, um time se expõe à chacota não apenas quando deixa de conquistar um campeonato ou perde para uma equipe considerada inferior, mas também, e principalmente, quando prefere contratar mercenários em estado de decomposição a jogadores assim, comprometidos com o time em que atuam, com a torcida que defendem ou, pelo menos, com a profissão que desempenham. (05 de maio de 2012.)

2 comentários:

  1. Curioso como muitas vezes somos injustos uns com os outros. No esporte (no Brasil isso fica muito evidente no futebol) isso é bem visível. Não conheço o goleiro do Corinthians, mas a dinâmica é familiar a todos. Lembrei de um outro texto seu, sobre o garotinho que perdia o doce, e esquecia tudo de bom que viera antes. É triste quando exigimos a perfeição, deixando de dar o devido valor às boas qualidades, e vemos no primeiro erro um motivo de condenação absoluta, quando não de massacre.

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  2. Alguém tem que pagar o pato. E, por proximidade aviária, sobre para quem costuma conhecer de frangos. Futebol nunca foi coisa justa.

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