segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Au revoir, 2012!

2012 chega ao fim – em alguns lugares do mundo, aliás, já chegou – e abre espaço para um promissor ano ímpar. Eu, que nunca gostei de anos pares, os quais costumavam, ao menos na nossa família, representar mau agouro, confesso que me surpreendi com um ano repleto de dias bonitos e lugares ensolarados. E, quer a gente queira, quer não, fica essa vontade de “fechar para balanço”, fazer um inventário pessoal, íntimo, do ano que se despede, com aquilo que a memória fez questão de estocar. MELHOR FILME Eu vi e revi alguma coisa do Truffaut e do Bergman, que já têm seu espaço especial no meu coração; voltei a me maravilhar com o “Dolls”, do Takeshi Kitano; não gostei muito da “Roma” do Woody Allen; morri de rir com o “Intouchables”, de Olivier Nakache e Eric Toledano; mas foram dois brasileiros alguns dos grandes ganhadores da categoria: “Natimorto”, de Lourenço Mutarelli, e “Viajo porque preciso, volto porque te amo”, de Marcelo Gomes e Karin Aïnouz. A voz do Irandhir Santos recitando canções populares consegue transformar o brega em belo como num passe de mágica. Só não leva o ouro, porque o Sérgio Leone surgiu na minha vida, como um caubói solitário cruzando as montanhas do Velho Oeste: “Três homens em conflito” e “Era uma vez no oeste” dividem o primeiro lugar, ao som de Enio Morricone, e sob o olhar fatal do Clint Eastwood. HOMEM DO ANO Poderia ser o Emerson Sheik, o Cássio, o Guerrero... mas vai ser o Clint Eastwood. Ele atua, dirige (deem uma olhada em “Um mundo perfeito”, por exemplo, além das realizações mais recentes), canta, toca piano e arrasa corações – como o “Blondie”/”The Good”, de “Três homens em conflito”, então, nem se fala! Tem 82 anos, mas ganha pelo conjunto da obra. PARTIDA DO ANO Certas partidas foram mais emocionantes; outras, mais sofridas; algumas, mais bem jogadas; mas nenhuma se compara à goleada (!) de 2X0 sobre o temido Boca Juniors, (dois do Sheik), que nos garantiram a conquista da Libertadores e tiraram da boca de todos os secadores do Brasil a piada pronta sobre o Timão. Nem vencer o Mundial, com a ajuda de um atacante peruano chamado emblematicamente de Guerrero – assim, sem o “i”, que é como muito “curintiano” escreveria mesmo – foi tão significativo, tão bonito, tão tudo-que-eu-sonhei-na-vida. SÉRIES Eu comecei o ano viciada em “Modern Family”, que tem mesmo o humor muito criativo e atual; depois comprei todas as temporadas de “Sex and the city”, que, descontados os exageros, o consumismo, a puxação de saco da cidade de Nova York (o Woody Allen já fez isso, gente, e muito melhor!), é uma série a que toda mulher deveria assistir. Conheci, graças a um amigo, o “Awake”, que é uma série tão boa, mas tão boa – inteligente, versátil, emocionante – que não sobreviveu para contar história na segunda temporada. Só que o que tem me feito morrer de rir é mesmo o “Curb your enthusiasm”, com o Larry David, ex-produtor do “Seinfeld”. Aquele tipo de gafe, de situação constrangedora, que poderia acontecer com qualquer um, mas que só acontece com ele. Impagável. LIVROS Talvez essa seja a parte mais difícil. Li muita coisa boa de teoria do cinema, como o Jacques Aumont e o Arlindo Machado. Adorei o livro de tiras do Allan Sieber, que comprei na rodoviária, e o do Quino (sem tirinhas da Mafalda), que achei no aeroporto, e aonde foram parar meus derradeiros pesos. Conheci, pela internet, os poemas de um português chamado Al Berto, maravilhosos. Estou gostando muito de um autor japonês contemporâneo, o Haruki Murakami (que quase ganhou o Nobel), cujo livro, “Após o anoitecer”, ganhei no Natal. Mas quem fez minha alegria este ano foram os latino-americanos, especialmente os hermanos: Roberto Arlt, Bioy Casares, Ernesto Sabato, Borges... mas, principalmente, o peruano Mario Vargas Llosa, com “Pantaleão e as visitadoras.” SHOWS Foi um ano bem fraco para shows. Esperamos ansiosamente pelo Soundgarden, no SWU, em outubro ou novembro, para descobrir que o evento seria cancelado. Ficaram, então, o Morrissey, em uma noite melancólica, versus o Maná, em um dia muito bem humorado. Acho que, nessa disputa, quem ganha é um concerto de jazz em Rio das Ostras, de um nordestino chamado Artur Menezes, num dia feliz de chuva na praia. Ou um cover muito bom do Alice in Chains, a que assisti em BH há poucos meses, de um grupo novo chamado “Junkhead”. CANÇÕES Gostei muitíssimo do trabalho recente do Deftones, “Koi No Yokan”, que conheci por indicação do twitter da Anneke van Giesbergen. O Soundgarden também lançou um álbum respeitável, o “King Animal”. O Smashing Pumpkins, com exceção da primeira música, de que simplesmente não gosto, caprichou no “Oceania”. Mas é difícil bater, numa lista de minha autoria, o “Disclosure”, do The Gathering, e o “Weather Systems”, do Anathema: o segundo é um pouco mais heterogêneo, conquistando-me mais nas quatro primeiras faixas, mais bonitas e tão coesas quanto num disco conceitual; já o primeiro é tão harmônico, as faixas se comunicam com tal naturalidade, que é como se o álbum todo fosse apenas uma longa e bela canção. DESCOBERTA Descobri que, mesmo que exclua determinado texto do blog, não posso inscrevê-lo em concursos literários que exijam ineditismo. Como a maioria é assim, acabei decidindo postar menos, guardando certos textos para poder usufruir de outras oportunidades. Por isso, tenho atualizado pouco. Mas não desisti do blog, nem deixei de ser grata àqueles que, vez por outra, passeiam os olhos por aqui. Muito obrigada. E que haja sempre a nota certa, e a cena, e o verso, na moldura de nossos calendários. (31 de dezembro de 2012.)

5 comentários:

  1. Nós que aqui passamos ocasionalmente agradecemos as tão convidativas palavras que nos impelem a compactuar com as experiências. : D
    abraços.

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  2. Eu tava tentando lembrar do filme esses dias! "Viajo porque preciso, volto porque te amo."

    Bela retrospectiva! Meu 2012 também foi repleto de dias ensolarados.

    Que nosso 2013 seja ainda melhor!

    P.S.: Ah, mulheres belas e cultas... [suspiro] ;)

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  3. Gostei muito do seu “balanço” de 2012, do formato que você usou para elencar o que mais te marcou no ano. Ficam dicas excelentes para música, cinema, literatura.

    Isso de textos postados em blog não poderem participar de concursos literários é uma tristeza. Na minha opinião, o ineditismo deveria se restringir apenas a livros impressos, e talvez também revistas online. Muitos escritores usam blogs para divulgarem seus trabalhos, mas nem por isso são conhecidos o suficiente para não se beneficiarem muito da publicidade e do incentivo de colocações em concursos.

    P.S.: Faço minhas as palavras do Talles.

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  4. Também morriii de rir com "Intouchables" e, até hoje, com "Modern Family", embora tenha decaído muuito nos últimos meses. Foi nesse ano mesmo que descobri o mundo de séries que eu estava perdendo, fazendo me afogar semanalmente em pérolas como "How I Met Your Mother", vendo e revendo cada um de seus 160 episódios até agora. Na área de musicas descobri "Arctic Monkeys", exceleeentes! Anyway, belo balanço, com boas escolhas!

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  5. Interessante...
    Também andei revendo Leone. Morricone e seus arranjos fodas, Cardinales bonitas, closes seguidos de heroicas vitórias, eastwoodianas, mas é claro... perfeito. Entrada para o esperado e delicioso spaghetti à tarantinesca.

    P.S.: maços de cigarro...

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