terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Sobre as plantas e outros seres vivos

Sempre que chego de viagem e subo os cinco degraus de escada para o meu apartamento, meus olhos têm direção definida assim que destranco a porta: viram-se para a esquerda, checando se nossas plantas de estimação sobreviveram aos meus dias de ausência. Há cenas desoladoras, em que as pobres coitadas estão amarelas, secas, murchas, cabisbaixas. Frequentemente, penso que é o fim. Um pouco depois, no entanto, com água e alguns cuidados, elas voltam à vida. São quatro, e duas delas se mudaram conosco para cá, quase oito anos atrás. É muito tempo e, ainda que eu saiba não ter o que na linguagem técnica se chama “mão-para-planta”, satisfaço-me com o fato de ainda estarem vivas, suportando, com tanta constância, vários dias de abandono. Se andassem, provavelmente já teriam se mudado daqui. Se falassem, teriam me proferido uma boa quantidade de palavrões. Mas essa sua passividade inata as mantém ali, caladas, esperando por mim. Muitas vezes, as pessoas fazem isso com a gente, ou vice-versa: em nome de questionáveis prioridades, nos deixam ali, plantadas, somem, desamparam velhos amigos, grandes (possíveis) amores, com a condenável ilusão de que, quando voltarem, quando resolverem X ou Y, tudo estará do mesmo jeito. As pessoas, porém, não são plantas: como triatonistas, nós nos movemos adiante, pedalamos, corremos e nadamos sempre em rios diferentes. (22 de janeiro de 2013).

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