segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Primeiros dias de uma tricordiana em Paris

Estar debaixo da Torre Eiffel e olhar para cima, como um menino levado que tenta descobrir o que há sob as saias de uma mulher. Entrar em uma rua qualquer à procura de um restaurante e dar de cara com o Arco do Triunfo. Perder-se, dobrar e desdobrar o mapa entre esquinas diversas, e tropeçar no Panthéon. Descobrir-se cercado pelos restos mortais de tantos imortais... Baudelaire, Sartre, Robespièrre, Victor Hugo... Encantar-se com as patissêries, com os chaussures, os murmúrios, tantas vezes incompreensíveis, dos franceses, em toda a sua suavidade. E ouvir, em seguida, inextricáveis sotaques, indecifráveis traços, convidativos aromas, tailandeses, chineses, turcos, paquistaneses. Abrir um vinho e outro e flanar pelo neon vermelho das soirées, os boulevares, os parques, os castelos, as bibliotecas, os museus. Saber que há, agora, em cartaz, duas peças de Jean-Paul Sartre, as comemorações do Ano Novo Chinês, o centenário de nascimento do amado Albert Camus. É absolutamente adorável errar por Paris, errar em Paris, trocar nomes de ruas, comprar toalha de papel no lugar de papel higiênico no supermarché. É doce o frio de poucos graus neste fevereiro em que o sol, embora brilhe, é desbotado pelo vento, gelado, que corta. Anos atrás, quando estive aqui, jurei para mim mesma que voltaria, que moraria, que recortaria para mim um espaço em Paris. Agora conto ao avesso este calendário, esperando que os próximos trezentos e sessenta e um dias deslizem com a elegância e a leveza do Rio Sena. (18/02/2013)

4 comentários:

  1. Essa belíssima crônica, com sua cadência, espontaneidade e encantamento, fizeram eu me sentir um pouco em Paris, aí com você, compartilhando da sua felicidade.

    Que venham mais maravilhados trezentos e cinquenta e sete dias! rs.

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  2. Cenário promissor para quem estudou "O Estrangeiro".

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  3. Cuidado, não fique num canto qualquer, à meia-noite, em Paris. As badaladas de um sino milenar podem levá-la aos séculos passados, a visitar famosos escritores que ainda vivem nas páginas dos livros e entre as ruas iluminadas do passado. Poderá até se apaixonar - o que não é difícil- e desejar ficar para sempre no século XIX, talvez mais distante ainda, XVII. Curta Paris, a cidade que encanta, mas fique firme no presente. Abs.

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